E aí meu peixe! Estás vivo ou morto em seu relacionamento?


Por Gilvaldo Quinzeiro

O texto que escrevo agora não é só de natureza espinhosa, é também escamosa e de difícil degustação: relacionamentos!  

A “isca”, a sugestão, me foi dada por uma amiga preocupada com a onda de feminicídio. Eu, despois de muito relutar, como peixe mordi a isca.  Mas não vou me atrever a falar deste assunto (o feminicídio), porque este reside em água mais profundas e escuras. Vou apenas me ater a pescar na superfície destas águas. Ei-lo.

Primeiro. Os relacionamentos mal atados, não só se constituem os mais pesados como também aqueles nos quais perdemos mais tempos enrolados, e as vezes asfixiados pela sua natureza puída. E tudo começa com um simples: “caiu na rede, é peixe”!

Segundo. A questão é exatamente o que fazer com o “peixe pescado”? Muitos sem se darem conta de que a mesma a rede, na qual, “o peixe caiu”, é a mesma que também lhe fisgou (o orgulho, a vaidade, o narcisismo), preferem colocá-lo no aquário como troféu a ser exibido aos amigos e ao deleite próprio. Outros preferem mantê-lo ‘vivo’ na palma da mão até provocar o seu apodrecimento. Este tipo de comportamento, infelizmente, é o que  tem sido mais frequente nos últimos dias.

Terceiro. Na verdade, muitos relacionamentos se ‘apodrecem’ como peixe pela mão possessiva de um dos parceiros. Neste estágio, um dos parceiros já não respira: jaz bem debaixo do nariz do outro; é peixe morto!

Quarto.  “o peixe morto”. A maioria dos crimes, em especial os feminicídios, ocorrem nesta fase. Ou seja, o homem sem se dá conta de que a sua parceira, na sua condição de o Outro, há muito tempo foi morta por sufocação - mata aquilo que nela (na parceira), é ‘seu’.  Não é raro, portanto que após matar à esposa, o marido cometa o suicido.

Quinto.  Um dos pontos chaves aqui é exatamente a ‘rede’, os fios, os tecidos, as nervuras que constituem a natureza dos relacionamentos.  Todos nós somos uma espécie peixe preso!

Sexto. O Outro. Esta é famosa espinha de peixe! Poucos foram os que aprenderam em casa uma das mais importantes lições da vida: o Eu, o Meu não envolve tudo – há o mundo inteiro lá fora com as suas diferenças, o qual precisamos respeitar.

Sétimo.  Em outras palavras, “por mais que nos amemos, Tu nunca serás Eu, e Eu nunca serei Tu”. Amar, portanto, implica na condição espinhosa de também suportar o Outro!

Oitavo. Deixar que o Outro “nade em sua praia”, sendo o peixe vivo de si mesmo, tornaria o relacionamento ao menos numa paisagem mais bonita!

Nono. Admirar o outro na sua condição de o Outro   é ter se tornado, não só em bom pescador, mas em dominador de mares e tempestades!

Décimo.  O tesão, isca, para todos tipos de relacionamentos, como diria Roberto Freire, o terapeuta, (1927-2008), “não está no outro, mas em nós”!

Ame-se! Conheça-se! É aqui onde está o segredo de todos os mares, redes e pescas!

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