Repensando os passos e os fantasmas da civilização



Por Gilvaldo Quinzeiro


Vivemos quase que exclusivamente fazendo um gigantesco esforço para retornar aos instantes passados; especialmente aqueles em que nos fincamos na ilusória condição de ‘devorador’. Um desses instantes é o da primeira mamada – é aqui que renunciamos até os primeiros passos para nunca descer da árvore- mãe! Este instante de uma forma ou de outra permanece em cada um de nós.  Engana-se, pois, quem pensar que o que mais nos atrai sejam os estágios posteriores, como o dos primeiros passos em relação ao engatinhar; o da civilização em relação à barbárie.

Sigmund Freud (1856-1939), foi um dos primeiros a fincar os pés nesta questão.

De um certo modo, a saga humana não passa de uma compulsão ao retorno. Considerar que passamos mais tempos presos às cavernas, do que hoje à chamada modernidade, não nos deixa dúvida para onde estamos caminhados(?).  Os gastos na corrida armamentista, não obstante, partindo do que é mais avançado no campo da pesquisa científica, não nos trarão outro futuro que não seja a do aniquilamento!

O uso dos celulares, dos aplicativos e outros que tais, em que pese toda a sua sofisticação, e a ilusão de que ao mundo estamos conectados, não passa de um retorno – à caverna - virtual!  Ao que nos parece, não passamos de uma formiga presa a um pingo d’água ou uma bolha de sabão! Tem gente levando uma vida, conquanto, o frescor dos seus anos, na condição vegetativa, sem saber sequer onde fica a padaria – de tanto fazer uso do mundo virtual.

Por falar em retorno à caverna, isso nos remete também as suas sombras ou seus fantasmas. A propósito, ontem eu fiz o seguinte comentário a um amigo, este, remoendo seus medos: “não crie os bichos que você mesmo não possa devorá-los”! Precisamos dar uma atenção especial a este aspecto, pois é possível que os nossos medos sejam maiores do que as nossas capacidades de enfrentamentos!

O número crescente de feminicídio em nossa sociedade não é só assustador pelas suas estatísticas, mas, sobretudo, pelo que isso pode significar do retorno de alguma coisa seja esta coisa o que for, contudo, não representa os pilares da civilização, e sim, os alicerces da barbárie.

Sexo, este é um dos assuntos inerentes à questão civilizatória desde os seus primórdios, por incrível que pareça, e, que haja quem prefira chocolate a sexo, é, de um certo modo a ‘fome’ de todos nós! A fome que vem disfarçada de muitos nomes, desde pacote de biscoitos às seitas salvacionistas.

Ufa!




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