Indo pra cama com a violência: uma reflexão freudiana sobre a forma atual do gozo?
Gilvaldo Quinzeiro
A violência nossa de cada dia não só expõe o “lixo colocado
debaixo do tapete”, isto é, a forma como a civilização lida com as forças mais
obscuras da natureza humana, enrijecendo assim, uma das
mais antigas face humana, a hipocrisia, como também o “gozo” com o qual ela ( a violência) é praticada, sobretudo pelos jovens nos arroubos dos tempos incipientes da adolescência, diga-se de passagem que esta nunca foi tão duradoura, como nos tempos
atuais, enquanto isso, a infância simplesmente
desapareceu. Ora, isso não é só tangível como é o “pântano” no qual estamos
literalmente atolados!
Dito de outra forma, a violência tal como ela vem
sendo praticada me faz intuir que estamos diante de um fenômeno único, não sei
se o mesmo passaria despercebido do olhar apurado Freud, a saber, do “deslocamento das
genitálias”. A respeito disso, em outro texto eu indagava se os jovens de hoje com “as mãos e o
cérebro ocupado em tantas parafernálias”, se se masturbavam ou se isso já não seria
em si uma masturbação? Eu também já chamei atenção para “o arremesso do corpo”
como sendo uma forma através da qual os jovens se dão conta da
realidade.
A violência não só tem um conteúdo erótico, como o
seu “gozo” é o substituto de um Outro – aquele cuja demanda nunca foi atendida.
Como gozar, se a condição humana do gozo foi deslocada?
Ora, o que eu quero dizer é que a violência é bem
mais complexa. E mais, a violência é filha não órfã, ou seja, esta tem uma mãe que a alimenta todos os dias. Alias, esta sim nunca perdeu “o instinto materno”.
Em outras palavras, a violência é “o cotidiano”. O cotidiano
constituído apenas pelo jeito “noturno” de ser. O difícil, porém, é nós nos
vermos nela!
Portanto, pense bem, antes de ir pra cama com ela, tá?
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