As mudanças humanamente topográficas
Por Gilvaldo Quinzeiro
Saltar da caverna para erguer o mundo, foi quase uma
eternidade para a humanidade. Passos
lentos e tortuosos foram dados, mas, enfim, nasce o homem. O que ‘diabo’ é
mesmo o homem? - Isso nem a caverna, que
o abrigou na condição de útero durante longos milhares de anos, poderá
responder!
Se no passado o homem engendrou a si mesmo com o uso das
mãos, dos pés e da cabeça – enfrentando frio e calor; chuvas e tempestades;
matando ou sendo devorado por feras -,
no presente quem não recorre ao uso de avalanches de analgésicos, soníferos e outros que tais, para
se manter de pé diante dos ‘desconfortos’ da modernidade? Quem não precisa do uso dos prejudiciais
anabolizantes para se sentir musculosamente mais forte? Afinal o que é para que
serve o corpo?
Quem ainda recorre a própria memória para guardar ou se
lembrar das suas travessias e travessuras? Como esperar que as ‘máquinas’ – as
nossas memórias eletrônicas – possam nos aliviar dos nossos traumas ou
apetecerem-se com as nossas boas lembranças?
Percebo com muita preocupação, o quanto nos tornamos
dependentes dos objetos que, se olharmos atentamente, não passam de bugigangas.
E olhe que eu não estou falando de drogas! Vi casos de jovens que se recusavam
a tirar o boné da cabeça, pois, sem o uso dos mesmos, se sentiam completamente
desprotegidos! Ouvi relatos de garotos que, quando perguntados sobre a
importância dos celulares para si, estes respondiam sem pestanejar, “são minhas
mãos”!
Até mesmo os hits, as músicas de sucesso, estão sendo
utilizadas como uma espécie de ‘amuletos’. Ouvir alguns relatos de um garoto
que, quando pilotando uma moto, este, quando ouvia uma certa música, se
transformava numa espécie de avatar.
Se por um lado, nos distanciamos das cavernas, isso eu tenho
minhas dúvidas; por outro, estamos também perdendo o contado com o que há pouco
tempo ainda chamávamos de ‘homem’. Há entre nós quem ainda seja um de nós?
Uma coisa é certa. O presente nos arrasta precocemente para
o futuro! De sorte que o menino, já ‘homem’, não consegue ser mais ‘menino’ – a
infância se tornou também uma espécie de mercado, destes como o de bebidas,
armas e outros que tais, isto é, um nicho de onde os empreendedores só veem uma
oportunidade de negócios e de bons lucros!
Enfim, lá, no futuro,
que pode ser ‘o logo mais’, o daqui a alguns instantes, quem de nós nos esperará
ainda em condições humanas de nos dizer “olá”?
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