O(s) João(s) de Deus e de tantas perguntas



Por Gilvaldo Quinzeiro

O tempo atual revira as pedras, as pontas e as cabeças. Não há nada que não esteja sendo colocado em xeque. Do privado ao público; do profano ao sagrado; das catedrais aos casebres.  Tudo sacolejado pelo tsunami do tempo. Como o velho Freud diria, “perdemos o controle dos esfíncteres”. Mas não se assuste, pois, tudo isso é bem humano – ainda não passamos disso!

O caso do médium João Teixeira de Farias, o João  de Deus,    e sua avalanche de denúncias de abusos sexuais contra mulheres de diferentes idades, somada  a outras levas de diferentes queixas contra o mesmo,  incluindo de chefia de organização criminosa, segundo aponta as investigações policiais, é um fato merecedor de uma ampla reflexão, se possível,  de cunho filosófico – por que não? Uma vez que se trata de um caso não só de repercussão nacional, como internacional, dado as denuncias feitas por mulheres de outras nacionalidades. Mas não é só por isso, João de Deus é um líder espiritual! Sob a sua égide é movimentada toda uma economia que, por sua vez, forja o dia a dia de Abadiânia, cidade do Estado de Goiás, onde reside o médium.  Ou seja, João de Deus é muito mais do que um simples líder carismático, ele é ‘pai’ de muita coisa!

Qual o impacto deste caso na economia da cidade? Qual o estrago provocado na vida das mulheres abusadas por João de Deus? Qual o rasgo na fé e na reação dos seus seguidores?

O fato é que de uma hora para outra, tal como o efeito de um tsunami, o João de Deus, se transformou em outro joão – nele mesmo (?) – no joão entre quatro paredes! Ora, a história humana está cheia desses casos. Isso é, pois, um pouco de nós mesmos!  A questão é como não apontar só para um lado. Aprenderíamos mais com este caso, se não fôssemos tão hipócritas e oportunistas!

Que lições devemos tirar desse caso? O que é mesmo a espiritualidade?  O que o caso da prisão de João de Deus tem a ver com a de outros líderes também presos? Há algo que nos leva a pensar em uma ‘catarse coletiva’?

Bem, se olharmos com profundidade, tudo começa com uma velha dicotomia, esta tão bem conhecida pelos estudiosos da mente, a saber, o corpo e o espírito; o profano e o sagrado; o animalesco e o homem; o inconsciente e o consciente.

Em outras palavras, somos um misto de outras ‘carnes’ que, se não levadas à sério; se não a lapidarmos dia e noite – seremos por estas facilmente devorados!
Por fim, quando o ‘cavalo’ da espiritualidade se torna por demais arredio e, o cavaleiro se infla de si mesmo como se pressentisse das rédeas,  o resultado já é esperado e não poderá ser outro -  é coice e queda nos “Joãos de Deus”, que por aí haverão de existir aos montes – quase como uma praga em todos os credos!

Quem tem ouvidos para ouvir que ouça, e entenda como quiser!




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