A metáfora do espelho e o voto, uma reflexão quase psicanalítica

Gilvaldo Quinzeiro



Freud explicaria o por que da categoria de professor não votar em professor, tal como ocorreu nas eleições municipais(em Caxias) de 2008, não obstante 21 candidatos ao legislativo serem professores? Ser-nos-á impossível responder tal questionamento, porém, podemos arriscar uma explicação à luz da Psicanálise – ciência criada pelo grande mestre – sem descartarmos as outras explicações de matrizes diversas, inclusive a política.

Entretanto, para isso, vamos recorrer a “metáfora do espelho”, isto é, um professor é reflexo indubitável da imagem de um outro professor. E como a “imagem” do professor já é por si mesmo depreciativa, o que se ver no espelho nada mais é do que o nosso reflexo, ou seja, a imagem do próprio “fracasso”. Todavia, como resposta imediata a esta imagem especular (do fracasso) e da baixa auto-estima, surge o “narcisismo” representado em atitudes como: “ele (o outro professor), é pior do que eu”; “não vale apenas, pois, acreditar nele”...

E o passo seguinte é se identificar com o algoz, a saber, votar em quem tem uma imagem contrária a nossa. Nestas circunstancias, nós nos regredimos a condição de criança, e, como criança implica saber a historia pessoal de cada um. Ai entra a figura paterna ou materna (repressora) como referencia, uma vez que lhe falta um referencial positivo de si mesmo. Coincidência ou não, sabe-se que entre os eleitos está quem bateu em professor. Diga-se de passagem, com “voto” dos professores!... Freud diria que este fato se enquadraria na “compulsão à repetição”, isto é, um indivíduo tende a repetir ou reviver uma circunstancia vivida por este passivamente por mais dramática que tenha sido, na esperança de dominá-la. Na visão do senso comum, isso seria coisa do tipo - “mulher de malandro quanto mais apanha, mais procura taca”...

Isso nos leva a chamar atenção para o estado agonizante e desestruturante do ego dos professores. Fato que tem conseqüência direta não só no exercício da profissão, bem como da saúde física e mental da categoria. Condições estas que exigem por parte da sociedade e principalmente das nossas autoridades, atenção e um melhor acompanhamento a fim de que se evite uma catástrofe humanitária de proporções imprevisíveis à médio ou a longo prazo. Isso porque o que está sendo destruído é a “identidade” de uma das mais importante categoria profissional.

Portanto, do exposto acima se conclui que, primeiro: a auto-imagem do professor é negativo, fruto de um histórico processo de desvalorização salarial e profissional. Segundo, sem um referencial positivo de si mesmo, a categoria passa a si identificar com aqueles que os agridem. Terceiro como o ato de votar passar necessariamente por uma reflexão, isto é, se colocar de frente do espelho, “um candidato professor” reproduz a imagem depreciativa que cada professor tem de si mesmo, o que motiva o voto (inconsciente(?)) em outro candidato que não o da sua mesma categoria (professor).

Então por esta ótica, já se pode antecipar quem serão os vencedores das eleições de 2010?

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