O complexo de ser filho de Deus

Gilvaldo Quinzeiro



O espelho que reflete a nossa imagem, a nossa imagem que é a “semelhança de Deus”, também é o mesmo espelho que nos faz ver em nossa subjetividade, o quanto Deus não é verdadeiramente a nossa imagem.

Deus criou o céu e a terra, sem contudo copular e nem se deixar excitar, mas ao empregar a Palavra, gestou em nós seus filhos, o desejo de não só tê-lo mais próximo, como também o direito de reivindicar a herança que nos foi prometida!...Mas como Deus não tem “sexo algum”, herdamos daí o “complexo de sermos filhos de Deus” com uma anomalia entre as pernas, que tende invadir todo o corpo e a própria alma, transformando-nos em seres que “poderão vir a ser ou não, digno do amor do pai”!

De sorte que numa paternidade duvidosa como esta, há entre os “irmãos”, uma disputa fanática e suicida pelos primeiros lugares na “árvore genealógica.” E neste “universo das palavras”, quando estas se tornam inócuas tal como nos dias atuais , se constroem com o poder das pedras, balas e mísseis – o “paraíso” para, “junto a Deus Pai”- merecer está sentado á sua direita. Em outras palavras, são os filhos que terão que provar para o próprio pai, a sua paternidade. De sorte que daí deriva uma relação paradoxal, na qual, o importante não é ser pai dos filhos, mas “filho do Pai”.

O “complexo de ser filho Deus”, nos remete a condição de, em “não se tendo nascido do útero,” nos faz ser filho da palavra, e como esta só tem sentido dentro d e um contexto falado, então hoje ou nós estaríamos grávidos de nós mesmos, ou Deus estaria se recriando para nos proferir outras palavras, num mundo onde o significante se esvai sem significados. Ou seja, eis os filhos desesperadamente a procura de um pai!


Mas, afinal de conta, caso isso conta, quem é irmão de quem? Quanto custa alguém se tornar irmão do outro? Qual das "filas" dos que se aglomeram é a que nos leverá aos céus?

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