As curvaturas do amor e os olhos dentro do bico
Gilvaldo Quinzeiro
O amor não sobe a ladeira sozinho. Às vezes suas
derrapadas nos impedem até de trafegar por caminhos mais curtos. Outros, porém,
nunca conseguirão dar um passo a frente sequer. Estes estão atolados até o
pescoço à mercê de quaisquer trações.
Deveras, toda a química do amor é substancialmente
animal, o mesmo não se pode dizer das suas prisões.
Todo amor é espelho. Todo espelho é quebradiço. Tudo
que é quebradiço só é reconstruído como imagem. Toda imagem é ao mesmo tempo
mãe e filha – eis ai o útero de toda nossa perversão?
O amor se encurva quando todo o esforço é retidão. O
amor é galinha dos ovos de ouro, quando, por tudo que se pena, no dia seguinte
estamos nós de grão em grão.
O amor ai quando tudo são apenas pernas abertas. Por
isso alguns não se cansam de erguerem o tempo todo suas portas, patentes e fechaduras?
O amor é sempre um rio de perigo. Alguns nadam
sempre de lado como caranguejos, ora molhados, ora secos; outros sempre no raso
nunca se afundam; porém, há aqueles que se arriscam de corpo inteiro lá onde o
escuro é fundo acreditando ter fôlego de baleia. Há também aqueles que
simplesmente se fazem de “isca”, estes querendo se fazer de espertos, de tanto
usarem a camuflagem atraem o voo das aves, e lá do alto de onde nem é peixe ou caranguejo
têm olhos apenas que engasgam o bico!...
O seu amor o que tem: penas, escamas, garras, picos
ou apenas é o voo que nunca aterrisa?
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