A criança abandonada

Gilvaldo Quinzeiro



1 – Tão importante quanto discutir uma política para se prevenir e tirar as crianças abandonadas das ruas é também resgatar com urgência a “criança abandonada” no interior de cada um de nós. Aliás, em tempo em que se prega o “final do mundo”, o mundo dos que perderam o jeito feliz de viver como uma criança, há muito tempo já se acabou.
2 – O que fazer então para resgatar a criança abandonada dentro de nós? É o que ouso discutir neste texto.
3 – Antes, porém, um esclarecimento: não é que agora vamos deixar as nossas responsabilidades profissionais ou domésticas para brincar de bolinhas de gude ou de bonecas. Diga-se de passagem, que hoje em dia nem as crianças conseguem mais brincar, o que é sem dúvida nenhuma, um grande desastre!
4 – Pois bem, ao contrário do que se pensa, nos momentos mais apavorantes e difíceis, nós adultos, somos abrigados e protegidos exatamente pela criança que há dentro de nós.
5 – Isto significa dizer, entretanto, que, enquanto é a criança que nos protege, nós a abandonamos. Ou seja, a nossa criança interior é abandonada exatamente quando esta mais precisa do nosso lado adulto, a saber, no perigo, nas decepções e na dor!
6 – O resgate da nossa criança interior, começa pela compreensão de que nós adultos somos todos hipócritas, e que quando nos adultificamos o fazemos mutilando a criança que engatinha no chão da realidade. Portanto, isso significa dizer que se faz necessário uma ressignificação do nosso ser; das nossas atitudes. Nestas condições, muitas das nossas “coisas” que descartamos no lixo podem nos ser útil, por outro lado, aquilo que acreditamos ser benéfico para nós deve ser jogado fora!
7 – O nosso choro entalado na garganta para não “incomodar os adultos”, precisa ser ouvido e compreendido por nós. Do contrário, toda a medicação tomada diariamente para conter nossa ansiedade, só tem eficácia no lucro das redes de farmácias! Nos auto-maternar eis uma palavra chave nesta questão.
8- Precisamos aprender a nos acalentar; até amor próprio, porque é este que nos vai nutrir quando o amor dos outros por nós exaurir! Portanto, resgatar a nossa criança interior consiste também em sofrer por esta, não para ficar preso ao sofrimento que nos fez calar o choro, mas, fundamentalmente permanecer de pé quando adulto, naquilo que, em quando criança, nos fez tombar ao chão!

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