O BEBÊ, O AMOR E O ÓDIO



O BEBÊ, O AMOR E O ÓDIO.

Por Gilvaldo Quinzeiro

O nascimento do bebê é de uma natureza tão avassaladora quanto o desespero de um náufrago ao ter que abandonar a segurança do seu barco e se atirar num mar revolto. Dito de outra forma, do corte do cordão umbilical até o seio da mãe pode significar uma eternidade para o bebê, tal  quanto para o náufrago chegar são e salvo em terra firme.



O bebê é “o estranho e o desprotegido” desesperadamente em busca de abrigo;  um extraterrestre em visita à Terra em chamas. Sorte daquele que encontrar “seios, mãos e palavras” que lhe acolham e lhe “antropomorfizem”! Do contrário, não passará de um “germe” entre nós a provocar enjoos e fortes dores no “estômago” da sociedade.



Aliás, quem quiser de fato compreender o mal-estar no intestino da sociedade há de volver até o útero do qual nos desprendemos para, como um náufrago, chegar em braços seguros(?).



Dito introdutoriamente acerca do nascimento do bebê, e seguindo este modelo explicativo, vamos agora tratar do amor e do ódio, enquanto processo da “digestão psíquica”. Pois bem, se o alimento no processo digestivo se bifurca, isto é, uma parte é nutriente, a outra é excremento. O amor e o ódio no aparelho psíquico tem destino similar ao do alimento no sistema digestório.



O que fazer do amor ou do ódio? Isso será a resposta de uma dada civilização, num determinado momento tal como se faz com o destino do lixo, isto é, daquilo que é aproveitável ou não. Ou seja, o amor ou o ódio podem servir de “nutriente” a qualquer civilização e como “alimento” saciar qualquer tipo de fome . Em outras palavras, no final, o amor ou o ódio terão enfim, se constituído em combustível apropriado para impelir os homens rumo ao seu “destino”.



O Protótipo do amor, se assim podemos falar, é o de um “ bebê saciado”. O “protótipo do ódio” é o de um “bebê esfomeado”. Dito de outra forma, ambos são imanentes à natureza humana, nada mais, além disso, e tal como uma “natureza” nas mãos da “civilização” pode se transformar neste ou naquele material, útil ou descartável.



Portanto, o amor pode ser tão devastador quanto o ódio. O ódio indiscutivelmente é um dos “cimentos” na construção daquilo que chamamos hoje de “progresso ou civilização”. No entanto, um terceiro elemento deve-se acrescer a este “bolo digestivo” – o discernimento! Este sim sobrepõe à força cega do amor e do ódio!

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