Os deuses de hoje, e nós seus espantalhos!



Por Gilvaldo Quinzeiro


 Afinal o que somos do Cosmo: experimentos  ou apenas seus  excrementos? Desde Osíris no antigo Egito, o homem tem se perguntado por que existir, se a vida está a caminho da morte? Mas é exatamente no Egito antigo, onde a ideia de finitude não soava bem, razão pela qual  tudo que lá  se erguia era na perspectiva da eternidade.  Mesmo que esta  eternidade viesse pelo esforço dos escaravelhos ao  revolverem  seus  estercos! Hoje, o que seria a eternidade, quando tudo é tão volátil, e, para além desta volatilidade    nada se ergue?

O dito acima é uma introdução ao que vou chamar aqui de ensaio sobre “os neo-deuses”. E com ela, uma reflexão acerca das deidades dos nossos dias. Primeiro, eu parto da premissa de que “o mundo acabou” , e com ele todo o nosso  panteon.    Que homem ainda está de pé a despeito dos seus deuses estendidos no chão? Segundo,  se chegamos  ao “fim do mundo”, faz-se necessário uma nova teogonia. Terceiro, em assim sendo, estamos diante do “parto” de quê ?

Os Maias, por exemplo,   tinham o entendimento de que a cada ciclo, nascia um novo homem. Primeiro, o homem feito da lama. O segundo, de madeira e o terceiro do milho.  E a cada ciclo,  um novo  mundo que o cercava.  Porém, isso não acontecia sem que os deuses dessem “o ar da sua graça”.  Estamos nós a espera do quê? Seremos homens ou  apenas espantalhos?

Volvermos ao Egito antigo, e mais especificamente, ao mais simbólico dos seus monumentos,   as pirâmides: o que afinal estas estão a nos dizer, quando em nossa pressa por respostas prontas, desperdiçamos as mãos e os  ouvidos? O Egito, a despeito, dos que pensam ao contrário, foi o útero que abrigou por muito tempo e em diferentes épocas,  as crenças monoteístas! O Egito antigo, portanto, de alguma forma pode  estar  presente nos dias de hoje – somos suas múmias ou seus deuses animalizados?

Os deuses de metralhadoras


Os deuses de hoje cagam e comem como  nós. Só deixamos de lhes ser semelhantes,  quando  estes, de fuzil ou metralhadora nas mãos,  têm o poder de decretar sobre nós a sentença de    vida ou de  morte!  Sim, a violência diária das nossas cidades, antropologicamente falando,  criou novos deuses. E nós, seus espantalhos!

 Qual o custo de uma vida ceifada brutalmente,  quando é mais barato se pagar com o silêncio de uma sociedade inteira?

Portanto, não há dúvida de que estes “meninos”, quando de posse de uma arma,  se sintam como deus. Isto é, com o poder de tirar  a vida.  Neste aspecto, a violência nos faz  voltar aos tempos dos gregos antigos, a saber, quando os deuses tinham traços humanos. E o mais humano dos traços dos deuses gregos era exatamente o seu desejo por vingança! Ai de nós nas mãos destes  “neo- deuses”  tão sanguinários quanto  os antigos!

Ai de nós sem morrermos  por  deus algum?



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