Porque é importante ler Freud no caro café da manhã


Por Gilvaldo Quinzeiro


Eu vou partir de um misterioso caso da morte de um garoto de 14 anos, Davi Nunes Moreira, na semana passada, na Bahia, depois deste ter injetado na perna, resíduo de uma borboleta - o caso segue ainda em investigação policial – para nos inserir num labirinto de retorno às nossas condições primevas de “bicho” (?), e por conseguinte, às tortuosas pegadas deixadas pelo grande pensador Sigmund  Freud.


Para quem se habituou a fazer da leitura de Sigmund Freud, o seu principal café da manhã, como eu, não se assusta com tal asserção. Freud fala, por exemplo, em Totem e o Tabu com a convicção de que em nosso “velho psiquismo” reside ainda alguma coisa do animal da qual lutamos permanentemente para controlá-lo.


Nos textos de Freud é muito recorrente a expressão “filogenético”. De sorte que seu uso é um claro sinal de que o mesmo, isto é, Freud, acreditava que certos padrões de comportamento e estruturas mentais eram herdados de nossos ancestrais e que esses padrões influenciavam a forma como pensamos e agimos.


O termo filogenético se refere ao desenvolvimento da espécie humana ao longo do tempo, em contraste com o desenvolvimento individual de uma pessoa, conhecido como ontogenético.


Pois bem, voltando ao ponto inicial. Os parques das grandes cidades como Berlim, na Alemanha, agora estão chamando atenção e ganhando visibilidade nas redes sociais, não por causas do passeio de  uma criança e seu cachorrinho, mas por outros tipos de frequentadores, a saber, de pessoas que se fantasiam  e se comportam mesmo como    animais tais como cães (latindo), gatos (miando )  - a raposa na maioria ( fazendo sei lá o quê)! Isso tem nome: therianismo!


Afinal estamos deixando de ser gente ou ser gente, nunca conseguimos ser?


Nos últimos tempos, em especial por conta das alterações climáticas, nos acostumamos, e aqui reside o perigo, com as seguintes expressões: “com aumento do volume das águas do mar, muitas cidades serão “engolidas”; com alteração do habitat dos animais silvestres, cada vez mais estes são vistos nos ambientes domésticos”.


E quanto essas alterações climáticas  no psiquismo humano que tipo de consequências estão provocando?


Ora, se por um lado, nós nunca tivemos tão próximos de experienciarmos a condição de sermos um robô , uma máquina ou uma “vassoura”, o que significa alterar drasticamente a nossa condição “humana”; por outro lado, entretanto, e como resultado dessas alterações, nunca tivemos tão próximos de sermos abocanhados  pelo “bicho” que nunca deixou nos habitar!


Retornando a Freud. Numa das fases do desenvolvimento psicossexual, a fase oral, a criança desenvolve uma tendência ao “canibalismo”, quando , por exemplo, apresenta a fantasia de incorporar o objeto amado (a mãe) através da boca, como uma forma de possuí-lo e mantê-lo sempre presente. Essa fantasia pode ser associada ao canibalismo, mas não necessariamente se manifesta em comportamentos reais. Há algo aqui que tem a ver com a questão filogenética, segundo Freud.


 


Por fim. Voltando ao caso do garoto que morreu na Bahia em consequência dele ter injetado resíduo de borboleta na perna. A borboleta pode ser o símbolo mãe, a chave, digamos assim, para a compreensão de que nos insetos está a nossa salvação?


Um bom café se adoça com uma inquietante reflexão!

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