A violência, e nós seus espantalhos!
Gilvaldo Quinzeiro
Na violência todas as faces são nossas, inclusive a
que se estilhaça no espelho. Esta é a face que nos mira, enquanto disfarçamos
com os olhos pra outras vitrines. Claro está quão escuro é quarto em que
retocamos a maquiagem!...
Em outras palavras, em todos os espelhos a violência
já não mais se disfarça. A questão agora é assumir que dela somos seus
espantalhos. Aliás, diga-se de passagem, que, somos espantalhos em “carne viva”.
Eis, portanto, um detalhe espantoso, a
saber, não há remendos ou esparadrapos em nossa condição de espantalhos : tudo
em nós são feridas vivas!
Pois bem, a “antropomorfização das feridas", quando
dos homens nada mais temos não é outra coisa, senão fazer das nossas carnes a “oficina
dos demônios”. Os demônios o que são
senão uma das nossas faces esquecida!
Ora, como diria Freud enfaticamente, “aquilo do qual não se lembra, se repete”.
Então na violência que se repete todos os dias não é a nossa face esquecida?
Coincidentemente, desenvolvemos uma compulsão pelas
nossas faces que só se veem nas vitrines dos shoppings. Logo nos shoppings onde
todos os espelhos são feitos para disfarçar “as faces que se desbotam”! É aqui
onde os nossos espantalhos se alimentam e se fartam, pois lá na rua a face estilhaçada que se ver é do
outro(?).
A violência, portanto, quer se ver em nós para então nos ensinar o
quão é tarde para se acordar pra ela com a mesma face com a qual dormimos cedo?
Eis a questão.
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