A MORTE
... Jacaré, e a morte o que nos diz? – Fala ai meu caboclo!
Por Gilvaldo Quinzeiro
A morte naquilo que de nós se antropomorfiza é por assim dizer, outro
“engenho” – aquele pelo qual se conclui tal como nos dissera Protágoras( 480-
411):”o homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que
são e daquelas que não são por aquilo que não são”. Esta frase entre outras
coisas me faz lembrar, de um outro pensador, desta feita, um contemporâneo, com quem tenho tido o prazer de passar horas e horas
sentado na Praça da Matriz filosofando -
J. Cardoso - aquele que entre os
íntimos é chamado de “jacaré”.
E um dos inúmeros temas das nossas conversas
é o homem, como também a morte, assunto este que aqui vou tratar. Porém, não vou recorrer
aos gregos, mas, a Filosofia Cabocla.
Pois bem, a minha
morte exige de mim ao menos que eu me abstraia dela. E assim, com toda “certeza
humana”, não morrei por completo...
Que alívio, não? Que abstração, eu diria!
A morte, portanto, quando medida pelo homem ainda assim,
e por isso mesmo, não deixa de ter a
nossa face. Aprender sobre ela, pois, significa nos aprofundar no imaginário
humano, isto é, sobre nós mesmos. E por falar no imaginário, a sabedoria cabocla nos fala que Jesus Cristo ao andar pelo
mundo ao lado de Pedro, sempre com ele, jogou uma laranja sobre um córrego, e
naquilo que a laranja foi lá no fundo e voltou, o mestre disse: “tá vendo
Pedro, é assim o significado da existência humana, ou seja, assim como esta
laranja foi lá no fundo e voltou, o homem voltará a viver, depois da morte”. No
que Pedro retrucou ao jogar uma pedra no mesmo córrego, dizendo, “não mestre, a
existência humana tem que ser como esta pedra que acabei de jogar, e ficou
presa lá no fundo”. E Jesus lhe respondeu: “que assim seja”!
Quão humana e sertaneja esta narrativa! O caboclo tem
sempre algo a acrescentar as coisas. No exemplo aqui, esta narrativa é acrescentada a da Bíblia. Ou
seja, para tudo o caboclo tem algo a
acrescentar, assim como fizera também com
a “boca da cabaça” (já falei disso aqui). Que maravilha! Que vida!
Ora, nesta narrativa podemos vislumbrar que Jesus Cristo
irá de alguma forma repensar a premissa
de Pedro, uma vez que, a primeira, a
sua, era verdadeiramente a que constitui o sagrado, o mistério, o transcendental,
que é próprio da sua pessoa.
Enfim, vamos ter esperança!
Mas, voltando a falar do imaginário. È disso que estamos
falando. Eu sei de história espalhada por este sertão, dando conta de que tem
caboclo por ai que não só sabe o dia que vai morrer, como há aqueles que só
morrem, depois de dizer uma espécie de “senha”.
Mentira? Não é apenas o jeito caboclo de driblar a morte!
E você jacaré tem algum jeito para não morrer?
Bom dia para se
viver mais do que os outros!
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