Alguns dias antes


Por Gilvaldo Quinzeiro

Há algumas semanas, estávamos todos apressados. Uma pressa, que não nos levaria a nada.
Mas estávamos com pressa!
Alguns estavam em sofrido trabalho de parto, grávidos de nada. Mas estavam com pressa!
Outros se esqueciam do que deveriam fazer, horas antes de sair de casa. Mas estavam com
pressa!
A velhinha, que cantarolava suas canções da infância, enquanto enfiava a linha no buraco da
agulha. Mas estava com pressa!
Os cães já estevavam se passando como um de nós, alguns vestindo ‘jaqueta’. Mas estavam
com pressa!
A menina, que passava horas e horas tirando self, toda pronta e bonita. Mas estava com
pressa!
O casal, que se despia no motel frente à tantos espelhos, e um cheiro de jasmim. Mas estava
com pressa!
O carteiro, que zelosamente entregava as cartas, batia palma em frente ao portão. Mas estava
com pressa!
O padre, que celebrava ‘religiosamente’ a missa aos domingos na capela. Mas estava com
pressa!
A mãe, que amantava carinhosamente o bebê. Mas estava com pressa!
A boneca, em um canto esquecida, de olhar fixo para a entrada da porta. Mas estava com
pressa!
E de repente veio o hoje, e tudo mudou! O trem parou. O moinho parou. A padaria parou. A
feirinha lá da praça parou. A vizinha fofoqueira parou.
Mas nós continuamos com a mesma pressa engasgada em algum lugar

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