Coronavírus: a culpa é de quem?



Por Gilvaldo Quinzeiro



Atribuir culpa a outrem, especialmente em momento de calamidade, é algo tão humano, como o de também não reconhecer os gestos de quem fez algo para evitá-la. Aliás, esta é última coisa a ser reconhecida, tal é o tamanho da hipocrisia humana!

No caso da pandemia do covid-19, antes mesmo de procurarmos a cura, nos apressamos para encontrar os culpados. Culpado, certamente haverá! Mas é também da natureza humana não assumi-la!

Nós, nem estamos fazendo o mínimo para evitar a expansão do coronavírus, a despeito das recomendações das autoridades de saúde, como o ato simples lavar as mãos e de ficarmos confinados em nossas casas, e já nos apressamos para culpar os chineses pela pandemia que assola o mundo! Ora, culpar é o gesto mais fácil, exatamente porque neste gesto há algo do que não é refletido, do não avaliado e do não mensurado.

Em outras palavras, a velha humanidade, a mesma que condenou Sócrates, Jesus Cristo, Galileu Galilei e tantos outros, prefere o caminho mais fácil do que o do uso da razão.

Ai de nós se não fossem os ‘Judas’! Ai de nós se não tivéssemos o outro, bem do nosso lado, para o qual não pudéssemos apontar o dedo!

Se forem culpados os chineses ou os norte-americanos; os cometas ou os céus como uma punição aos nossos pecados, isso é da ordem do nosso processo civilizatórios ou do nosso processo evolutivo que, apesar dos pesares, em nada aprendemos em relação a importância da vida; em nada aprendemos relação ao respeito mútuo e da convivência com os outros.

Ora, o que levariam os chineses ou os norte-americanos a criar um vírus letal (eu não estou afirmando que não), senão a ordem geopolítica em que estamos divididos entre ‘bons e maus’; amigos e inimigos, e nestas condições, um vai fazer de tudo para dominar o outro. É esta mesma ordem política dividida entre os ‘bons e os maus”, “santos e demônios”, que sustenta paradoxalmente as religiões e a nossa religiosidade. Ou seja, a nossa civilização ocidental.

 Em outras palavras, a culpa é da humanidade que não superou a sua mesquinhez; a sua mesquinhez que alimenta todo tipo de poder. A culpa é da humanidade que ainda não aprendeu com outras catástrofes; com a peste negras e nem com todas as guerras, algumas destas guerras, ‘santas’, em nome da fé ou de ‘Deus’. E pelo andar da carruagem, guerra desta natureza pode já estar sendo acionadas...

Este momento, portanto, exige uma profunda reflexão.  Uma reflexão que precisa das múltiplas visões. Todos nós estamos no mesmo barco, este barco, em que pese a causa ou os culpados, está se afundando. Portanto, criar redemoinho neste momento de severas tempestades, é não ter o bom senso, e nem assumir a sua parcela de responsabilidade com a situação.

Este momento, portanto, não é para nos atermos a superfície das coisas. Precisamos agir e ir mais além do que já chegamos, para, salvar, não apenas aqueles que suponhamos serem ‘os escolhidos’, mas a humanidade, que é a raiz de todos nós!

Faça o mais simples: fique em casa!

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