Crônica de guerra: as feições do mundo pós coronavírus



Por Gilvaldo Quinzeiro


Aos poucos o mundo vai ganhando outras feições. Feições nada parecidas com o tão imaginado futuro das máquinas e suas sofisticações; de gente sarada e bonita; do progresso impulsionado pelas grandes ideias. Estas novas feições, mais se parecem com as velhas, lá do final do século XIX e do início do século XX.

Mas, o século que estamos é o XXI, então, como pode tudo de repente ter mudado assim de uma hora para outra? As ruas vazias. O comércio quase sem movimento, com exceção da corrida desenfreada as farmácias.   Os shoppings servindo apenas como meras lembranças de que até há algumas semanas atrás, tudo nos pareciam tão luxuoso e bonito!

Aos poucos o mundo vai ganhando outras feições. Feições estas cada vez mais parecidas com um cenário de guerra.   As fronteiras entre os países antes abertas para o fluxo de gente e mercadorias vão se fechando. As companhias aéreas, que sempre ofereciam voos pontuais aos mais diferentes destinos, cancelam suas viagens, e os passageiros, muitos em desesperos, são agora como meras bagagens esquecidas!

Cruzeiros lotados de gente rica e bonita vagam pelos mares sem rumo, pois, aqueles que seriam seus tão desejados destinos, apressam-se para não recebê-los de jeito algum!

  Festas de casamentos, batizados, colação de graus, missas, celebrações de diversos tipos, são cancelados ás pressas, e com preces de que o agendamento para uma nova data não sejam tão longa assim.

Aos poucos as partidas de futebol outrora lotadas de torcedores fanáticos, dão lugar aos estádios vazios, com jogadores também temerosos não de levar uma pancada nas pernas, mas de serem contaminados pelo contado físico com o jogador adversário.

Aos poucos, as novelas, que eram atrações para as donas de casa, apressam-se para encerrar seus capítulos e finais... Aos poucos os programas de auditórios se esvaziam...

Aos poucos a roda do progresso,  que foi inventada para nunca parar, enguiça, e dar sinais de que os tempos de agora necessitam de novas engrenagens.

  Aos poucos, o que já era pouco, fica cada vez mais esgotado, e os mais velhos, requentam suas refeições, no aguardo dos guardanapos, que não limpam e nem ocultam suas feições diante do abandono e perigo.

Aos poucos os hospitais, que já estavam lotados, mudam suas feições com médicos também cansados, e que travam árduas batalhas   para salvar à sua própria pele!

Aos poucos...

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