Os traços e os tecidos da nova pandemia. O que somos? O que temos? O que seremos capazes de fazer?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Á medida que o novo
coronavírus, o coid-19, avança pelo mundo, desafiando todas as estruturas
logísticas, sociais, políticas e econômicas, incluindo as das ditas sociedades
avançadas, o prefeito de uma das mais modernas cidades do mundo, destino
turístico para os mais refinados gostos, Nova York, Bill de Blasio, acaba de
declarar que dentro de 10 dias, os seus hospitais ficarão sem equipamentos essenciais para atender os
pacientes com o coronavírus - , nos
deparamos com uma situação em que nos encontramos de ‘mãos vazias’, situação
esta que é de fato a dura realidade humana, e que a nossa pressa cotidiana, o
ilusório – não nos permitia perceber!
Nova York? Sim. Nova York com tudo aquilo que despertava a
imaginação de todas as pessoas do mundo inteiro! Então, podemos afirmar sem
medo que as mesmas luzes brilhantes e encantadoras desta rica cidade, ocultava
uma realidade que é a todos nós, especialmente aos da periferia do mundo,
sempre estivemos “no mato sem cachorro”?
Mas entrando por
outras veredas, e nos adentrando ao mais complexos tecidos desta crise, queremos
lançar sobre a mesma um outro tipo de olhar, talvez, o mais cego de todos, mas
é certamente a nossa contribuição.
Pois bem, como ocorreu com a peste negra, no século XIV e a
gripe espanhola na segunda metade do século XX, o coid-19, nos ‘pega com as
calças curtas’. Cada crise em seu contexto,
com seus aparelhos e com seus aparatos que foram postos à prova, virados de
ponta-cabeça, digamos assim.
Entretanto, se pudermos
ousar um pouco mais, dá para fazer um paralelo entre estes 3 casos, isto é a
peste negra, a gripe espanhola e novo coronavírus? Há traços e tecidos que
poderão ser unidos? É o que vamos arriscar fazer ao longo deste texto.
Se lançarmos um outro
tipo de olhar que não o que poderia nos ligar ao sistema sanitário de cada
época, o que é olhar clássico, o seguido pelas academias, veremos que no seu bojo,
há sim traços e tecidos comuns: o ódio! É claro que esta constatação, como já adiantamos,
destoaria de quaisquer manuais dos serviços sanitários. Mas, o meu olhar insistirá em outra direção,
a mesma para qual as autoridades constituídas, bem como grande parte da
população, não estão olhando, e nem poderia olhar!
Como assim?
A peste negra foi antecedida pelo ódio, que levou as
“guerras santas” ou as cruzadas, em séculos anteriores. Guerras estas, não
obstante o seu término, mas numa época em que o tempo se arrastava mais lentamente,
não foi suficiente para digerir ódio nos anos e séculos seguintes. A gripe
espanhola, por sua vez, também foi antecedia pelo ódio que levou a Primeira Grande Guerra Mundial
(1914-1918), ódio este que, resultou na guerra seguinte, a Segunda Grande
Guerra Mundial (1939-1945). Não nos
esqueçamos, porém, o período posterior a Segunda Guerra Mundial, chamado de ‘guerra fria’, um período de disputa
ideológica entre os Estados Unidos e União Soviética, foi também alimentado
pelo ódio resultante ainda da última, isto é, a Segunda Guerra Mundial; ódio
este que ainda permanece vivo e que em nossos dias a despeito de suas novas formas e retóricas,
ressuscita as mesmas disputas e intolerâncias de antes.
Então a pandemia é uma espécie de ‘limpeza ou de purificação
cármica, como diria os espiritas? Bem, a resposta a esta e as outras questões
desta natureza, ficarão por sua conta, meu caro leitor.
O que reitero é que
há muito tempo eu venho falando de que estamos “em carne viva”, tal é o estrago
que ódio e a intolerância vêm provocando em todos nós. Que se queira ou não
acompanhar o meu raciocínio, nos últimos anos, temos vistos crescer atitude de
intolerância seja por parte das nossas autoridades, seja por parte das pessoas
comuns. Há até pouco tempo ganhava os noticiários dos jornais, as marchas em
massas de imigrantes, ao mesmo tempo em os governos se apressavam em erguer
barreiras para evitar a entrada de milhares de pessoas, muitas destas,
crianças, fugindo da fome, das guerras e de perseguições políticas em seus
países. Muitos morreram na travessia dos mares em precárias embarcações; outras
também perderam suas vidas arriscando-se em rotas terrestres, como na fronteira
entre o México e os Estados Unidos. Eu poderia dar outros exemplos, todos
ilustrando o nosso comportamento doentio e envenenado pelo ódio, mas fazer
isso, diminuiria o espaço para seguir com a linha de raciocínio que adotamos neste
texto.
Interessante chamar atenção, para um situação paradoxal, que
é a seguinte, não obstante, o inegável
crescimento das religiões, notadamente do campo evangélico, não foi suficiente para
digerir tanto ódio presente em nossos dias. Eis aqui uma falha das religiões?
Ou as religiões também não estão isentas aos malefícios do ódio?
Bem, por fim, a pandemia do novo coronavírus, o coid-19, aos
que conseguirem sobreviver tal pandemia, no mínimo terão a obrigação de tirar desta,
lições, para, se possível engenhar a imediata e sofrida construção de novo
mundo! Um novo mundo livre do ódio?
Comentários
Postar um comentário