A vida e a morte. Uma experiência de reencontro?


Por Gilvaldo Quinzeiro

Nesta semana, eu fui instado por uma amiga a falar sobre a experiência da vida após a morte. No momento falávamos da nova série da Netflix, que diz respeito a este assunto, e que teve estreia no dia 6. O texto abaixo (não é sobre a série!), é uma ilação acerca da vida e da morte. Um esforço para respirar para além das conhecidas águas...

(...) Uma frágil ‘casca de ovo’, é isso o que significa cada fase da vida. Talvez por isso tendemos desesperadamente a nos fixar a que, em tese, acreditamos ser mais seguro.  Eis a ideia do eterno retorno ao útero. Entretanto, o mais seguro, se se ‘segurança’ é um termo apropriado para a vida -  é seguir em frente, isto é, habitar a casca seguinte.

Em outras palavras, somos como náufrago que, no desespero de sobreviver agarra-se em vão a uma ‘folha de papel’ em pleno oceano!

 A vida e a morte, penso, é como um ‘cano’ sem rolha ou entupimento: onde tudo se desagua no mesmo oceano. Porém, nos fixamos a primeira ‘folha de papel boiando’, e fazemos disso a nossa experiência do viver. Ou seja, o nosso viver é, pois, algo alienante e singular: não nos damos conta do quão a vida é plural.

O exemplo citado acima, isto é, da tendência de nos agarramos a uma ‘folha papel boiando’, pode ser também estendido a facilidade com que nos fixamos aos vícios, aos relacionamentos tóxicos, aos nossos traumas, enfim, ao nosso mais desastroso viver!

Em outras palavras, o sofrimento é consequência desse nosso fixar; desse nosso alienar, isto é, da nossa não capacidade de   sentir o próprio oceano, que é a experiência da vida naquilo que essa é plural e diversa.

E quanto a morte? Em certo sentindo não há morte, mas apenas a experiência de sermos recebidos ‘do outro lado’. Como assim? Somos recepcionados ‘do outro lado’ parte de nós mesmos – quem sempre fomos e onde sempre estivemos, mas a tendência de nos fixarmos a primeira folha de papel no oceano, nos impede de termos uma visão mais ampla sobre tudo, inclusive sobre nós.

Em outras palavras, ter consciência de “que parte de nós está a nos esperar lá do outro lado”, significa fazer do nosso viver, uma experiência desse reencontro; do retorno a ‘casca do ovo’ ...

Por fim, feliz daquele que souber aproveitar a sensação de estar em terra firme, quando tudo em sua volta é um mar revolto! Feliz daquele que souber fazer da experiência de se agarra a folha de papel em pleno oceano, o melhor que puder, embora a vida não se resuma nessa bem sucedida experiência!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla