O caso Feliciano, e o velho complexo de sermos ou não filhos de Deus
Por Gilvaldo Quinzeiro
(...) O “complexo de ser filho Deus”, (escrevi sobre isso.
Ver o Divã das Palavras) nos remete a condição de, em “não se tendo nascido do
útero,” e sim da Palavra, entretanto, como esta só tem sentido dentro de um contexto
falado, então hoje ou nós estaríamos grávidos de nós mesmos, ou Deus estaria se
recriando para nos proferir outras palavras, num mundo onde o significante se
esvai sem significados. Ou seja, eis os filhos desesperadamente a procura de um
pai?
Pois bem, nos últimos dias me tem chamado atenção, “o caso Feliciano”,
e a repercussão midiática do assunto. A questão a meu ver não é tão simples - é muito mais complexa, e, faz-me lembrar a Idade Moderna com toda
aquela transformação, mais especificamente a Reforma Religiosa. Ou seja, a luta
entre “o velho e o novo”; uma ordem mundial em decadência e uma outra em
ascensão. E em torno desta, uma discussão antiga, e que agora nos parece atual:
afinal quem Deus acolherá como seus filhos?
De sorte que numa paternidade duvidosa como esta, há entre
os “irmãos”, uma disputa fanática e suicida pelos primeiros lugares na “árvore
genealógica.” E neste “universo das palavras”, quando estas se tornam inócuas
tais como nos dias atuais , se constroem com o poder das pedras, balas e
mísseis – o “paraíso” para, “junto a Deus Pai”- merecer está sentado á sua
direita. Em outras palavras, são os filhos que terão que provar para o próprio
pai, a sua paternidade? De sorte que daí
deriva uma relação paradoxal, na qual, o importante não é ser pai dos filhos,
mas “filhos do Pai”?
Neste contexto atual, será “ a Igreja Inclusiva” porta voz
da Reforma que culminará com uma “nova fé ou um Deus mais acolhedor”? E quanto
ao “novo homem” será tão híbrido que do “velho” nada lhe será semelhante?
O fato é: impossível não olhar para este cenário de lutas,
sem que os olhos não sejam furados. Digo mais: grávidos estamos, mas isso não significa dizer que tenhamos
parto.
Enfim, tudo são dores?
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