O espelho da crise
Por Gilvaldo Quinzeiro
Não há face bonita, quando o couro da barriga se
encolhe de fome. Não há política que se sustente, quando a economia perde seus
pilares de sustentação. Toda e qualquer
civilização tem seus limites. A barbárie vem tão mais facilmente, não obstante,
todo o esforço para se manter distante
dela. As estradas que nos levam a “Roma”, não nos impedem que ao longo do seu
percurso, não nos transformemos em lobos. Aliás, em certas condições, como as
de barbáries, o que de fato diferirá os homens, dos outros animais, são suas
fezes. Eis por que temos do que nos
orgulhar?
Este texto vem refletir acerca de uma onda de
intolerância que vem ganhando força nos últimos dias. Seja, a intolerância no
âmbito racial, seja, no âmbito
religioso. Ou seja, a civilização que de alguma forma está perdendo as
suas rédeas, agora começa a procurar os
seus culpados! No Brasil, o futebol tem sido campo de recorrentes intolerâncias
para com os jogadores negros – a mesma origem de Pelé – o rei do futebol. O
fracasso da nossa seleção na Copa do Mundo, abriu muitas fraturas, e o problema
da discriminação racial nos expõe as
vísceras da sociedade brasileira. A sociedade brasileira que deve tudo a
população de origem negra.
O caso do goleiro Aranha, do Santos e da torcedora
do Grêmio, Patrícia Moreira ganhou uma grande repercussão nacional, trazendo ao
debate a discussão sobre o racismo no futebol. Até o Pelé, se pronunciou a
respeito, numa fala em que revelou mais a sua torcida pelo obscurecimento da
questão, do que dá à luz ao assunto. Se depender de Pelé, o negro tem mesmo é
que se passar por “branco” se tornando
surdo e mudo aos “cantos e hinos” vindo
das arquibancadas nos quais lhe esfola a
pele.
A questão é que vivemos em outro contexto. E a
palavra ou quaisquer outros gestos fora do contexto, soam como tapa na cara. O
racismo ganha força, mas a reação a este vem na mesma proporção. Tudo conforme
a lei de Newton. Não é uma faixa com dizeres contra o racismo que vai postergar
o que na cara já está estampado. O Brasil precisa dar uma atenção especial a
questão do racismo, do contrário, ao invés de uma guerra entre torcidas rivais,
assistiremos um conflito sangrento entre
aqueles que se consideram mais “brancos” ou mais “pretos” do que os outros.
O espelho. De
todas as crises, a mais silenciosa, mas também brutal é aquela em que o homem
não se identifica, como sendo sua, a imagem do espelho. È aqui onde o diabo reaparece
- assumir que todos o somos – é se
descredenciar à ascensão aos céus!
Portanto, O
mundo vive escancaradamente uma crise. Crise esta que extrapola os limites da
civilização. Saber quem se tornará “cavalo” ou “cavaleiro” é identificar quem
também vai redesenhar o mundo e todas as outras figuras da sua história futura.
De sorte que, as “marchas” em curso,
abrem mais “feridas” do que caminhos.
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