O silêncio das cigarras
Por Gilvaldo Quinzeiro
Como se não bastasse o racionamento de água, em virtude da
estiagem que atinge a região, o rompimento de duas barragens, a do Fundão e a
de Santarém, em Mariana, Minas Gerais, ocorrido no último dia 5, simplesmente seca
de vez, o que já era escasso – o Rio Doce foi invadido por um mar de lama – a natureza
agoniza diante do rosto espantado dos homens.
Mais de 600 pessoas estão desabrigadas. Ao menos 15 pessoas
morreram. A lama soterrou milhares de peixes. E a vida teve um golpe fatal.
No Nordeste, uma das piores e prolongadas secas, é a maior
em 50 anos, põem à prova a sobrevivência dos nordestinos. Em Alagoas e Paraíba,
26 cidades estão em colapso total de água. Poços e reservatórios estão secando.
Sem pasto e sem água, os animais estão morrendo.
Em tempo de crise econômica e política, de onde enfim, virá
o socorro? Com a mudança de hábitos, quem saberá se utilizar das velhas
técnicas de sobrevivência?
O silêncio das cigarras. A seca potencializa cenas
inéditas. Animais silvestres deixando o seu habitat em direção as residências
dos sertanejos, onde disputam com os homens, os insetos, as aves e outros
animais, a última gota d’água.
Em uma recente visita ao sertão, eu fiquei espantado ao observar
a lentidão dos pássaros – quase ao alcance da mão – todos no chão a procura de
água. Vi abelhas ‘morando’ em plantas ornamentais – as únicas a desfrutarem da
água vinda, desta feita, pelas mãos dos homens.
Por fim, ‘a morte cavalga’ em passos apressados. A natureza
enfim, vencerá a si mesma?
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