A crise atual pela ótica dos espelhos


 Por Gilvaldo Quinzeiro


Da mesma forma que foi impactante para os indígenas se deparar pela primeira vez com um espelho – estranho parto de significados -, o homem contemporâneo diante dos desdobramentos das crises atuais, entre estas, a mais fatal de todas, a da alma, precisa reconhecer-se   enquanto produto do próprio homem. Assim como o índio era produto da sua tribo, e nisto resumia toda a sua visão, incluindo a de si mesmo!

Ora, o dito aqui implica dizer entre outras coisas que a nossa crise é também de natureza narcísica – a mesma que fez aquele personagem da mitologia grega a se afogar quando viu sua imagem refletida na água. Mas a questão é: quem de fato quer ver a si mesmo, enquanto produto das turvas águas? Há de um certo modo, a cômoda cegueira de não aceitar a realidade.

Em outras palavras, o ‘sabugo’ do espelho, pode, aos nossos olhos não nos dizer a respeito. O que sem dúvida, é este, não só um fato mais do que assustador, como o que contribui para o prolongamento da crise. Só os sapos sabem o que é preciso para se tornar um príncipe. Precisamos, portanto, aprender a ser humildes!

A crise em curso, portanto, tem algo diferente em relação as outras, qual seja, a sua solução não será alcançada com a simples escolhas de um ‘bode expiatório, assim como Nero fez com os cristãos, quando do incêndio de Roma ou do ‘relacionamento’ de Júlio Cesar com a rainha Cleópatra.

Todos nós somos, sem distinção de corrente ideológica, partidária ou do credo religioso, a ‘lama’ do fundo poço. É desta ‘lama’, entretanto, que o homem precisa se reinventar. Esta é, portanto, um caso de alquimia – da transformação moral e ética.

Tudo hoje é sintoma, e os remédios, seus paliativos! Precisamos, pois, ir mais fundo, não só nas análises, mas sobretudo, na busca das respostas!

Por fim, a grande questão a ser colocada no momento é a seguinte: que ‘diabo’ é o homem que nunca se reconheceu enquanto tal?



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