A criança é o ‘barro’ dos nossos edifícios
Por Gilvaldo Quinzeiro
Na pressa cega de erguer o mundo sob quaisquer pretextos,
inclusive sob as forças das armas, a humanidade abandona a matriz de todos os ‘engenhos
humanos’, a criança.
Se por um lado, a ciência nos coloca cada vez mais próximo
das descobertas espetaculares sobre o universo – há pouco tempo pousamos um
artefato em um cometa. Por outro lado, não estamos conseguindo como os índios
faziam, dar um sentido à vida dos nossos filhos!
Sim, os índios em seu mundo cercado por florestas, e não de
‘coisas’ como o nosso, conseguiam dar um sentido à vida dos seus filhos!
Em outras palavras, haveriam menos arames farpados e muros
que separam os quintais, se soubéssemos que em cada um de nós há uma criança
esmagada pelo ritmo mecânico das coisas.
Hoje os estudiosos do comportamento humano falam em ‘fim da
infância’. Se isso for verdade, a consequência disso será desastrosa para o conjunto
de toda a humanidade.
Eu espero estar enganado,
mas me parece que as novas gerações estão se tornando hibridas. Já fiz referência
a este respeito em outros escritos. Será este fato uma consequência das
alterações ocorridas na infância?
A propósito, lembro-me
de um desfile de 7 de setembro, quando ali na Catedral, local da concentração
das escolas, eu vi umas dezenas de jovens cuja aparência me fez lembrar a dos ‘deuses
egípcios’. A partir daí eu tenho estudado o assunto com muito interesse.
Se hoje somos
capazes de auscultar o bebê no interior do útero, ver seus movimentos,
etc, etc, através das novas tecnologias, por outro lado, o mundo que o espera,
incluindo o meio familiar, não lhe atende em suas demandas vitais, entre estas,
o afeto.
Nesta semana eu li em uma revista, o depoimento de uma
adolescente de 15 anos que fora abandonada pela mãe em seus primeiros dias de
vida, de sorte que compreendi nesta leitura, se é que compreendi, que ainda há
nesta adolescente a existência de um ‘bebê’ que, conquanto esmagado, continua à
espera daqueles primeiros cuidados!
Este fato me fez reportar a um velho escrito, no qual eu o
denominei de “Recriança”, um tratado psicanalítico, se assim posso falar, em
que faço uma abordagem a respeito da criança enquanto ‘barro’ das nossas
construções – aquele que recorremos quando ‘o edifico do adulto’ desaba!
Sim, por mais paradoxo que seja, nos momentos mais
tempestivos da nossa vida é a criança que surge para nos salvar – é a
ela a quem retornamos toda vez que o adulto abandono o barco!
Espantoso isso, não?
Por fim, conclui-se que se a criança é o ‘barro’ dos nossos
edifícios humanos, o adulto é apenas o seu tecido puído.
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