O imagético e o momentâneo, as duas faces fincadas do nosso tempo.
Por Gilvaldo Quinzeiro
Como um paraquedista espraiado nas praias da Normandia no ‘Dia
D’, onde o prazer da repentina descida é contrastado pelas saraivadas das
metralhadoras dos soldados alemães, a realidade nos atrai e nos engole! E, como
se não bastasse o nosso ‘mal dia de sorte, perdemos a mais poderosas das armas
em quaisquer que sejam as batalhas, o discernimento!
Em outras palavras, estamos marchando com passos apressados
sob solo minado ao mesmo tempo em que temos que baixar a cabeça sobre intensa artilharia
de fogo cruzado. “E agora José”?
Em que pese a fé dos egípcios antigos em seus deuses que,
aos olhos de hoje são quase de ‘pano’, ainda assim, seus rastros são mais
duradouros, de sorte que seus sinais contrastam com o nosso gigantesco esforço
em construir coisas não duradouras. Aliás, é bom que se diga que vivemos
fincados em estruturas tão passageiras que se assemelham a meras bolhas de
sabão.
Imagine aquela operação na Normandia, o Dia D, ocorrido em
6 de junho de 1944, na França, feita nos dias de hoje! Eu não falo das armas, eu
me refiro a capacidade de resistência dos soldados atuais, sobretudo no que diz
respeito ao ‘imagético’.
Vivemos ‘fincados’ nas areias movediças do mundo virtual. É
aqui onde somos todos ‘corsários’, e a imagem de uma garrafa boiando sobre as
águas com uma mensagem de um soldado, improvável de ver.
Por falar em ‘imagético’, estamos às vésperas do aniversário dos atentados de 11 de setembro sofridos pelos Estados Unidos, em 2001. Que ‘parto’
de imagens foi aquilo? O que mudou de lá para cá? Em que o mundo se
transformou?
Uma coisa é certa, nos tornamos mais ‘tatuados’.
Na intenção de celebrar o que pode ser tão passageiro, casais de namorados tatuam
a face uma do outro em si. Mães no afã declararem seu amor ao filho, ‘fincam’
na pele o que com gestos ou palavras seriam praticamente impossíveis. Atletas e
bandidos fazem dos seus corpos verdadeiras ‘cavernas’ pichadas de seus possíveis
soluços...
Enfim. As mãos, os olhos e a boca passaram a ser a mesma
coisa – tudo deslocado da cabeça.
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