A barbárie é nordestina?

Gilvaldo Quinzeiro


Nos últimos dias, após as eleições presidenciais, os nordestinos têm sido alvo mais uma vez de piadas e discriminação por parte daqueles que acreditam pertencer a uma “raça superior” ou a um grupo oriundo de um outro planeta. Trata-se de comunidades virtuais ou de pessoas que postam em suas páginas na Internet textos e comentários nos quais, o Nordeste e os nordestinos são mencionados como sendo os piores entre os brasileiros, seja intelectualmente, seja em outras áreas. È claro que o Nordeste é a região mais pobre do Brasil, vitima de uma política na qual os governantes ao longo da República têm esquecido. Mas, afinal, se a barbárie é nordestina, então os “civilizados” são quem? Os paulistas? Os cariocas? Os mineiros? Os catarinenses? Os paranaenses? Os sul riograndeses?

O que os nordestinos fizeram para serem considerados bárbaros? Só por que ajudaram a eleger a primeira mulher a presidente do Brasil? Ou por que esta foi eleita na gestão e com o apoio de um presidente nordestino? Se esta for a razão pela qual os nordestinos vêm sendo desrespeitados então quem são os bárbaros?

Foi no Nordeste, em 1928, na cidade de Lages, no estado do Rio Grande do Norte, onde a primeira mulher brasileira foi eleita à prefeita, trata-se de Alzira Soriano. Um ano antes, em 1927, acontecia no Rio Grande do Norte, o primeiro voto feminino( o voto de 15 mulheres).Diga-se de passagem que a mulher só passou a ter direito de votar no Brasil, a partir de 1932. Pois bem, foi também no Nordeste, onde foi eleita a primeira mulher à prefeita de uma capital, trata-se de Maria Luiza Fontenele prefeita da cidade de Fortaleza. E, para enlouquecer a elite do centro-sul, foi uma nordestina, Luiza Erudina, a primeira mulher eleita a prefeita da maior cidade da América Latina – São Paulo. E quanto a primeira mulher a se tornar governadora de um estado, foi quem e a onde?

Este são exemplos, entre outros que poderiam ser citados nos quais os nordestinos, não obstante, as dificuldades que são conhecidas por todos, ainda assim, são capazes de resistirem, sobreviverem e quebrarem paradigmas de uma sociedade cuja mentalidade ainda é de escravocratas. Portanto, estes são exemplos da contribuição dos nordestinos na construção da democracia. E poderíamos falar de Zumbi dos Palmares, Antônio Conselheiro, Rui Barbosa, Maria Aragão entre tantos outros também nordestinos que foram exemplos de luta contra os que defendiam e defendem um país melhor só para si, isto é, contra aqueles que lutam pela permanência da desigualdade que lhes tornam “superiores”.

Porém, os intelectuais das últimas duas ditaduras pelas quais o Brasil passou eram da onde? Não são os mesmos que se arrogam superior aos nordestinos?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla