Que o futuro não nos chegue tão cedo?


Por Gilvaldo Quinzeiro


Este texto é uma simples ilação a respeito da relação do sujeito com o tempo ou com suas rupturas. Ei-lo.

O tempo é o mar no qual se deságua toda a existência. É aqui onde sujeito, ora é a isca, ora é o peixe. Tudo enfim, no afã de chegar a qualquer custo até a praia.

O tempo é, portanto, aquilo no qual se afunda a existência humana.

O bebê ao nascer é atirado ao mar revolto. O tempo que decorre do corte do cordão umbilical, até ao colo da mãe é uma eternidade. O choro é o único gesto possível ao bebê-náufrago.  Este é o tempo presente – raízes do nosso passado – sementes para o nosso futuro.  Quanto ao passado, este é o útero para o qual tendemos a voltar.

O futuro é onde ilusoriamente amarramos as nossas expectativas – o último barco no qual apostamos estar o alivio para as nossas angustias presentes.  

Em outras palavras, vivemos na expectativa de que a dor do presente, encontrará sua cura lá no futuro. É esta expectativa que nos move. Isso é o que nos faz sonhar; ter subjetividade; nos mantemos vivos.

Ora isso significa postergar e resumir a nossa existência a nada. Isso porque a rigor o futuro não existe – é apenas um produto da nossa subjetividade.

Pois bem, muito se tem falado que o futuro chegou. O futuro nos foi antecipado pela imersão do sujeito às novas tecnologias etc. e tal.  Se isso for verdade, qual é então, a implicação desse fato a existência?

Eu tenho insistido em falar da ‘velhice’ dos nossos jovens. Nesta semana, esta hipótese me veio novamente à tona. Qual o tempo no qual os nossos jovens estão imersos?

A minha resposta a esta pergunta é o ‘futuro’. Acontece, entretanto, que seu efeito é devastador. Ou seja, sem o futuro a ser atingido, o que resta aos jovens, senão se definharem e padecerem de uma melancolia fatal.

Por fim, eu espero estar completamente equivocado nas minhas ilações.






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