A carta do atirador, e a metáfora dos cinco poços

Gilvaldo Quinzeiro

Este artigo, conquanto, versando sobre o caso do massacre da escola de Realengo, no Rio de Janeiro, não tem a pretensão de explicá-lo ou trazer à luz o que até agora não foi falado, mas, apenas ampliar a discussão, somando a que indiscutivelmente, já se faz, seja por especialistas no assunto, seja por pessoas comuns.

As nossas considerações tomarão como base a carta deixada pelo atirador. È a partir dela que vamos intuir a nossa fala.

Pois bem, Wellington Meneses de Oliveira, o atirador, trata-se de um sujeito afogado nos inúmeros “poços” em que se constituiu sua vida. Poços estes em cujo fundo se debatia uma “criança” dependurada no seu próprio corpo. Corpo que, dado as condições de “afogamento” não conseguiu amadurecer.

Primeiro poço: o da sexualidade. Este é um poço sem fim, no qual, o Wellington Meneses de Oliveira se “ampara” na sua castidade, e dado a sua condição de “pureza” se afasta das pessoas, inclusive daquelas que poderiam lhe dar a mão. Em outras palavras, este é um poço que abre os demais. Portanto, uma queda sem fim!

Segundo poço: o da sua autoimagem. O virgem. Esta imagem lhe ascende à condição de uma pessoa especial que, no ritual de vencedor das tentações, tem “primazia” sobre todos os outros não castos. Esta é uma queda na qual o que se esmaga é o corpo do outro, o dos impuros!

Terceiro poço: o corpo adormecido. A morte: um breve sono! A criancinha banhada, secada, pelada e envolta no lençol branco. Um retorno ao “seio da mãe” que dorme ao lado. Aqui o atirador faz um esforço gigantesco para ressignificar sua existência: seu corpo em queda. Uma tentativa de “salvação”. Salvar o quê, se este tem a “morte” como berço?

Quarto poço: a escola. Um espaço no qual as diferenças, inclusive, as dos corpos ganham significados e nomes. Eis o precipício ao qual todas as crianças estão à beira. Basta só um descuido ou um empurrão, e lá estará um corpo no fundo do poço!

Portanto, trata-se de um lugar de retorno. Um retorno para “resgatar” para si, o que de si escapuliu. Ocorre, entretanto, que, o que as vezes nos “escapole” é a própria criança presente nas outras. E, assim sendo, que parte de si Wellington Meneses de Oliveira teria “encontrado” nas crianças que por este foram assassinadas? Qual o significado para si das mortes destas crianças? Seriam estas, a mesma “mão” que lhe faltou? Ou o corpo que por si mesmo não foi aceito?

Quinto poço: a carta. Esta não significaria a “corda” jogada não para seu socorro, mas, apenas, dando pistas para em quais poços seu corpo encontrar?

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