Para não dizer que não falei da importância da fala
Por Gilvaldo Quinzeiro
A alma de um povo, se assim posso falar, não está
necessariamente na sua escrita, ainda que sem a esta, quase nada se pode
compreender sobre um povo. Digo isso porque ao longo da história humana, nem
todos os povos possuíram a escrita,
porém, indiscutivelmente não há povo que não tenha possuído a sua narrativa oral.
Entretanto, dizer que um povo possui suas narrativas
orais, não significa restringir tais narrativas, as suas lendas ou aos mitos,
como muitos possam pensar. Mas é
dizer também do seu conhecimento astronômico; medicinais; laborais e filosóficos.
Portanto, as narrativas orais são tão importantes, quanto à escrita. Com uma diferença: quem conhece apenas a escrita de um povo, não poderá afirmar que conhece a sua alma.
Ora, o que seria da literatura sem a sonoridade das palavras ditas, no mesmo
instante em que também se sente o cheiro das coisas sobre as quais se fala? O que seria, por exemplo, da escrita de um Guimarães Rosa e sua obra “Grande Sertão:
Veredas”, sem o “chão” da tradição oral
do qual ele nunca deixou de andar? O que seria de Ariano Suassuna, o nosso “Luiz
Gonzaga das letras” e sua grande obra o
Auto da Compadecida, sem a rica tradição oral nordestina correndo em suas veias?
Contudo, não
é só a ficção que se rende a fonte inesgotável da oralidade. A ciência também. Como exemplo, a História; a
Antropologia e a Arqueologia. O que teria
sido de muitas descobertas arqueológicas
sem se ouvir as narrativas orais? Um bom
exemplo disso, foi a descoberta da cidade de Troia por Heinrich Schliemann que desde menino ouvira
do seu pai a história de tal cidade. Heinrich
Schliemann fez da fala do seu pai, um
caminho. E tempo mais tarde, depois de percorrê-lo,
não só descobriu a até então lendária cidade de Troia , como mais oito cidades , tornando-se assim, um dos mais importantes arqueólogos do mundo.
Um caso que merece ser destacado é o dos sítios
arqueológicos do município de São Raimundo Nonato, no Piauí. Ou seja, a grande arqueóloga e pesquisadora , Niède de
Guidon, jamais teria descoberto o sítio
arqueológico de São Raimundo Nonato, no Piauí, que possui a maior quantidade de
pinturas rupestres do Brasil, cuja pesquisa diz respeito a chegada homem no
continente americano, se não fosse as histórias dos caçadores daquela região.
E digo mais, o que sabemos do grande filósofo grego,
Sócrates, diz respeito, aos seus discursos; a sua fala, uma vez que, Sócrates, nada escreveu. Assim também como
Jesus Cristo, ou seja, dois homens que mudaram a maneira de se pensar e de se
viver no mundo.
Portanto, salve os velhos e sempre atuais contadores
de história!
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