A fome e a pose
Por Gilvaldo Quinzeiro
O homem, na pressa
de abotoar a braguilha, se tornou um soldado da sua própria pose. A batalha em curso
se tornou secundária. A pose substitui o
homem por inteiro. A vida crua é compartilhada em fotos com dedos decepados –
e se repararmos bem, sem seus anéis!
Por falar em vida crua, a notícia sobre o corpo do menino
Ezra, encontrado no freezer de sorvete, em um apartamento no centro de São
Paulo, infelizmente não é única, isto é, nos últimos dias, têm sido noticiado
vários casos de corpos encontrados dentro da geladeira. Por exemplo, o corpo de
uma mulher de 44 anos, também em São Paulo, foi encontrado esquartejado em um
saco plástico dentro da geladeira. O sobrinho de 22 anos, é o principal suspeito.
No caso, do menino Ezra, a mãe e o padrasto estão foragidos.
Poderíamos citar outros casos recentes nos quais famílias
inteiras foram assassinadas por um dos seus membros. Mas vamos parar por aqui.
Estamos com fome de quê?
Tais como nos antigos mitos gregos, onde Cronos devora os
filhos, o perigo não só mora em casa, como a família
atual tem cedido cada vez mais, lugar ao ‘estômago’. A fome aqui não é só por
atenção, mas também por sangue. Será por isso que todos evitam os olhares?
Psicanaliticamente falando, eu diria que a família tem se
constituído no ‘espaço-penico’, isto é, de ‘perigosas descargas’, e como tal, paradoxalmente
estreito para umas coisas – as que deveriam abundar em nós, como a compreensão
e o amor e largos demais para outras, como o ódio e a
intolerância. O ato de ‘entalar’ virou
um costume!
Enquanto isso, vivemos ‘muito bem e obrigado’, graças a
um gigantesco gesto: a pose!
Bom sábado!
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