A fome e a pose



Por Gilvaldo Quinzeiro

 
"Saturno devorando um filho": Francisco Goya

 O homem, na pressa de abotoar a braguilha, se tornou um soldado da sua própria pose. A batalha em curso se tornou secundária.  A pose substitui o homem por inteiro. A vida crua é compartilhada em fotos com dedos decepados – e se repararmos bem, sem seus anéis!

Por falar em vida crua, a notícia sobre o corpo do menino Ezra, encontrado no freezer de sorvete, em um apartamento no centro de São Paulo, infelizmente não é única, isto é, nos últimos dias, têm sido noticiado vários casos de corpos encontrados dentro da geladeira. Por exemplo, o corpo de uma mulher de 44 anos, também em São Paulo, foi encontrado esquartejado em um saco plástico dentro da geladeira. O sobrinho de 22 anos, é o principal suspeito. No caso, do menino Ezra, a mãe e o padrasto estão foragidos.

Poderíamos citar outros casos recentes nos quais famílias inteiras foram assassinadas por um dos seus membros. Mas vamos parar por aqui.

Estamos com fome de quê?

Tais como nos antigos mitos gregos, onde Cronos devora os filhos, o perigo não só mora em casa, como a   família atual tem cedido cada vez mais, lugar ao ‘estômago’. A fome aqui não é só por atenção, mas também por sangue. Será por isso que todos evitam os olhares?

Psicanaliticamente falando, eu diria que a família tem se constituído no ‘espaço-penico’, isto é, de ‘perigosas descargas’, e como tal, paradoxalmente estreito para umas coisas – as que deveriam abundar em nós, como a compreensão e o amor   e largos demais para outras, como o ódio e a intolerância.  O ato de ‘entalar’ virou um costume!

Enquanto isso, vivemos ‘muito bem e obrigado’, graças a um gigantesco gesto: a pose!

Bom sábado!

 

 

 

 

 

 

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