O ego e o 'diabo' da identidade
Por Gilvaldo Quinzeiro
O ego é o nosso ‘sapo’ interior, e como tal é o espaço da
alquimia. A sua transformação em príncipe, porém, é apenas o inflar-se diante
da realidade que lhe diminui. A rigor, o ego é um lugar pantanoso - ser ‘sapo’ é quase a sua única condição.
Saber lidar com isso, ou seja, com o nosso ‘sapo’ interior, significa escapar
aos desejos febris de se tornar, por exemplo, um boi.
Ora, o pântano também é um lugar especular. Ver-se na
condição de ‘sapo,’ e não na de um boi, pode naufragar toda uma imagem.
A existência do ego é, pois, metafórica. Isso não significa dizer, no entanto, um
espaço vazio. O metafórico aqui se diz em relação aquilo em que o ego poderá se
transformar na difícil missão de ser ele mesmo.
Só Deus sabe o quanto o ‘diabo’ quer em pessoa, ser também o ego!
O dito acima é uma introdução acerca de um assunto que, nos
últimos dias, vem me chamando atenção, a saber, da ocorrência de vários casos,
nos quais, adolescentes, principalmente do sexo feminino, têm sido acometidos
por crise de desmaios e alterações da personalidade. Para alguns, seriam a
possessão de espíritos! Estes casos têm sido registrados no interior de algumas
escolas, tanto da zona rural, quanto urbana de Caxias. O propósito desse texto,
entretanto, não é o de responder as questões preponentes ao tema, mas, suscitar
reflexões, posto que, as ‘imbiras’ desse assunto não se amarram em canelas,
ainda que finas!
Pois bem, se o ego é um lugar pantanoso, na adolescência,
então, ele se faz escorregadio e cercado de ‘jacarés’. Ser ‘sapo’ aqui, portanto, é ter a pele
muito fina, e não há outro jeito de andar, senão com a bunda literalmente na
lama.
O(a) adolescente é grávido de espelho. Isto é, de
‘imagem’ com a qual finalmente virá a se identificar. Parece simples, mas o adolescente há de se
identificar com um grão de areia entre os demais de toda a extensão da
praia. O ato ligado ao processo identitário,
não existe portanto, sem conflitos.
O conflito gera dor e parto. A dor pode invocar o ódio, e
este poderá ser o parto de muitos ‘nomes’.
O nome, qualquer que seja, é também um espelho. O ato de ver,
nos pari a despeito das dores que este ato alimenta. O adolescente é a face sem nome, assim sendo,
qualquer trincadura no espelho, o faz cego – só ouve vozes. Estas, as vozes,
são o espelho sonoro – e com este acontece um novo parto – o do fantasmagórico.
Portanto, este é um caso complexo e que merece ser
estudado, cada caso em sua particularidade, inclusive sob a ótica de diversas
abordagens.
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