O Brasil, e as ‘trempes’ da sua política. A quem interessa a fome dos cães?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Lendo uma entrevista da filósofa Marilena Chauí concedida a
revista Cult, na qual, a mesma responde às perguntas sobre o atual quadro
político e econômico brasileiro, nasceu-me a inspiração para o texto que escrevo
agora. Não como uma resenha a citada entrevista ou como
um contraponto. Mas, apenas como um fio condutor ao meu pensar. No mais, achei
a entrevista muito inspiradora e reveladora.
O texto a seguir é uma antropológica metáfora as nossas
condições atuais, se este é o termo apropriado. Ei-lo.
Pelo sim ou pelo não, o fogo se apagou das trempes, e o
borralho serve de travesseiro aos cães. E se os cães ainda dormem, é porque os passos
ao redor da fogueira são de quem agora alimentam seu sono: o bicho foi o que abocanhou!
Diferente dos bichos, o jantar dos homens é de suas
cabeças, e a sua insônia não é motivado pelos passos do bicho ao redor da
fogueira, e sim porque caiu na arapuca do seu pensar!
O Brasil vive um dilema que remonta aos tempos das
cavernas, qual seja, o de manter o fogo aceso, a despeito da tempestade que se avizinha.
Em outras palavras, o desafio de manter o país na rota do desenvolvimento, e ao
mesmo tempo atender as demandas sociais, quando ‘o combustível’ está mais para
alimentar as tempestades do que ao ‘fogo’ -, é uma condição terrível!
São estas condições em que os ‘cães’, os antigos aliados do
homem, ladram do lado contrário – o dia, portanto, é da caça! Isto é, o governo da Presidente Dilma Rousseff,
como diria o caboclo, “está no mato sem cachorro”!
O PT, partido da Presidente Dilma Rousseff, por sua vez, vive
historicamente os seus piores dias, os quais podem ser descritos na seguinte
frase também de cunho antropológico: “matando cachorro à grito”!
O quadro é de uma desgraça, sim, infelizmente! Mas ficar
apenas rindo ou apostando na exposição do “couro e da carne” dos culpados, é
nos transformar em urubus da carniça alheia! A crítica é bem-vinda e oportuna,
aliás, nunca precisamos encontrar a vereda como agora! O que não vale é aceitar
o convite para o ‘banquete’, onde o prato servido é a cabeça do inimigo!
Em outras palavras, se o quadro evoluir para a perda do bom
senso, do discernimento e da racionalidade, então, os tempos tribais estarão de
volta. A quem interessa isso? A ninguém além dos devoradores de cabeças!
A religião, por exemplo, não pode em nome da ‘pureza’ ou de
quem quer que seja, aguçar o ódio e o fundamentalismo, pois, se assim se
confirmar a posição de alguns de seus líderes em inflamadas pregações – um novo
Deus nos será necessário – do contrário, por quem estaremos dobrando os
joelhos?
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