Uma reflexão sobre o corpo, e os outros lugares desabitados por nós
Por Gilvaldo Quinzeiro
Nada será como aquilo antes. Tudo será como o que agora
emerge. Isto é, sem feições definidas, e
de contornos espectrais. E o que somos? Nada além rachaduras de um tsunami coletivo:
o afrouxamento de todos os amarradios civilizatórios até então vigentes.
O assunto aqui iniciado não será fácil conduzi-lo, dado ser
um material ‘poroso’, com muito esburacamento. E assim sendo, poderá nos atrair
a próxima fenda traiçoeira. Ora, mais o que significa a queda, o espatifar-se,
quando se sabe que não há nada mais no chão?
O dito aqui não significa dizer, no entanto, que estamos
levitando. Não. Não é isso.
Estamos tendo experiência de uma ordem
fantasmagórica, a começar pelo próprio corpo, que já não mais se ‘encaixa’ em nada.
Aliás, o corpo tem apanhado muito, porque lhe falta exatamente uma ‘cabeça’!
A violência é em grande parte o resultado desse ‘arremessar’
desta coisa chamada corpo! A cabeça, que eu arranco do outro, pode ser um sinal
de que tenho procurado a minha em outrem, uma vez que não a encontro em mim
mesmo. O dito aqui abre um fosso enorme. Estou ficando deveras assustado!
O que temos visto é uma sociedade capaz de remodelar todo o
corpo esteticamente falando, tudo isso em nome de uma beleza padrão, portanto
que vem de fora; porém, incapaz de habitá-lo. Ora, isso é borrar a maquiagem
com um choro que vem “não sei nem de onde”.
Em outras palavras, o corpo tem sido um ‘lugar’ desabitado;
é uma caverna do porvir.
Sempre que eu abordo este assunto, me vem como referência
os egípcios antigos, em especial, a sua ideia de eternidade ou a materialidade
destas em suas edificações, como as pirâmides, por exemplo. Mas também sobre as
formas físicas de seus deuses!
Por que será que os deuses egípcios possuíam a forma
hibrida? Talvez, penso eu, por serem mais difíceis de esquecê-las...
Ora, nestes tempos de memórias eletrônicas, pergunto: onde
está o nosso corpo ou onde está quem nele deveria habitá-lo?
Finalmente, a mais perigosa das fendas é a que vou abrir
agora: O corpo que nos falta pode ser o que nos foi roubado pelas ‘mães bonecas’
– aquelas que fazem de tudo para serem mães apenas de sua beleza.
Enfim, de quem ‘diabo’ é aquela mão que não se cansa de ser a
minha?
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