A tatuagem e o boné: muletas do ego adolescente?

Gilvaldo Quinzeiro



A exposição a que ego está sujeito aos “raios e tempestades”, dado a sua atribuição de defesa de todo o aparelho psíquico e por conseguinte, da pessoa humana como um todo, o tem levado a procurar “refúgio” nos mais inusitados objetos. Esta busca desesperada por proteção, dá ao ego a ilusão de que a sua sobrevivência se deve não a si mesmo, mas, a força do “hospedeiro”.


Todavia, numa análise mais apurada se constata exatamente o contrário, a saber, o ego é que ao acrescentar o que há em si ao objeto, o faz sem saber que a si mesmo se protege.

Em outras palavras, a força que se pensa partir do objeto, origina-se do ego que desconhece que a possui.


Os objetos que podem servir de proteção para o “ego em fuga”, vão desde o uso de um amuleto, uma prece, até uma tatuagem no corpo e o uso de um boné. Os últimos recursos são utilizados com frequenncia pelos adolescentes.


O uso das tatuagens se assemelha ao das pinturas rupestres, onde os homens primevos acreditavam que ao pintar um animal sobre uma rocha, estariam exercendo poder sobre o mesmo, o que lhe facilitaria a sua caçada. Muitos adolescentes ao tatuar o corpo com um dragão, uma águia e até mesmo com um demônio podem estar recorrendo à força que estas figuras lhes sugerem ter (?).

O uso de boné pelos adolescentes que tem causado tantas polêmicas no interior das escolas, se deve, no nosso entender, além das dificuldades inerentes a adolescência, enquanto fase de transição, bem como um estilo, ao “mito da camuflagem”. Ou seja, na crença de que é possível a uma pessoa se tornar invisível. Este mito é muito presente nas culturas de origem africana e indígena. Notadamente, tais povos foram os mais perseguidos pelo colonizador português. E por isso, dado a necessidade, recorreram a uma solução que na falta de outras armas, a magia.

O ego do adolescente portanto, se defronta com uma situação de extrema insegurança.Insegurança essa que se não afugentar os fantasmas que dela decorre, põe em risco a estrutura psicológica e física do mesmo.

Portanto, o boné, a tatuagem bem como o uso das drogas encontra no ego adolescente a força que o adolescente imagina vir daquelas.

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