Nós os atores da história humana - o trágico e o melancólico - uma repetição que vale a pena?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Tal como nos velhos filmes de faroeste, no qual a moça via com os olhos embaçados por
lágrimas, o mocinho, herói e destemido
partir em seu cavalo à galope, sempre em direção ao pôr do sol, em busca de
novas aventuras, para, de novo, fugir de si mesmo -, hoje quantas mocinhas
ficarão sozinhas, enquanto seus heróis,
estes sempre tão “machos” que não puderam
descer do alto das suas motocicletas - para
lá na frente se espatifarem!...
O que há de comum entre um caso e o outro? O mesmo script, a saber, o mesmo enredo, a mesma
história ( o drama humano), contudo, os
atores, o cenário e figurino são outros. O começo e o meio, no entanto, podem até serem diferentes, mas o
final, a rigor é sempre o mesmo: – o
trágico ou melancólico.
Quão triste e focado no vazio são os olhares das lindas
modelos estampados nos outdoors das
nossas cidades, não obstante a isso, é neles que nos vemos. Que espelho
quebradiço, não?
Poderia esta história ser outra? Podemos alterar o enredo
desta novela diária? Ou estamos condenados a fazer da nossa vida, a história
que já se repetiu na vida de outros? Quem afinal é o autor desta história?
Ora, a Psicanálise é uma ciência que nasceu como herdeira
da “tragédia grega”; o complexo de Édipo; o mito de narciso e outros que tais,
a despeito de que seja apenas uma
narrativa mitológica. Contudo, tais narrativas que tenhamos consciência ou não
(não esqueça de que o campo da Psicanálise é exatamente o do Inconsciente), fazem presente na nossa vida.
Como assim? Isso também acontece comigo?
Pois bem, não é sem razão que Freud, o pai da Psicanálise,
ora por outra, fazia comparações entre o
papel dos sacerdotes ou feiticeiros na interpretação dos antigos segredos e o dos psicanalistas atuais. O que ambos têm em comum?
A decifração dos “enigmas” que povoam a mente humana; o lidar com questões
assombrosas...
É na análise, portanto,
em que tomamos consciência de que estamos
de alguma forma repetindo, o que os outros nem sequer puderam começar, e, mais do que isso, podemos,
sobretudo, alterar os scripts, não
obstante, percebermos quão “normais” nós somos.
Ainda bem que nos encontramos naquilo que se repete. Já pensou
sermos os únicos a nos sentir como Narciso? Quão feio tudo realmente seria, não?
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