Vazio existencial: ou a falta de palavras para denominar a nossa outra face sem a maquiagem egoica?
Por Gilvaldo Quinzeiro
Uma queixa cada vez mais recorrente na clínica
psicanalítica: “o vazio de espedaçar”. Ora, que coisa esta que ao mesmo tempo que é definida como um
“vazio”, ainda assim, espedaça o sujeito da queixa?
Este é, portanto, o objeto da reflexão deste texto. Como
tal, não sem escorrego; sem atropelo ou sem correr o risco de vir me espatifar,
contudo, estou certo que este vazio, ao
menos metaforicamente também me cabe. E assim sendo, vale a pena encontrar-me
em “meus pedaços”.
Destarte, “o vazio” deve ser compreendido, se assim posso
falar, como espaço que, por estar dentro
de nós, é por conseguinte, a parte que “ego habita” ou que possa vir a ser
habitado, logo, a rigor não é algo sem
conteúdo ou sem face. Pelo contrário, “o vazio” é a face nossa, não contemplada que, ainda assim, talvez, por
está desprovida de um sorriso – faz do coração em frangalho - o próprio espelho!
Em outras palavras, tudo dentro de nós, ainda que esmagado,
é da ordem da “geometria egoica”, logo, não
há outra forma ou solução, senão,
aquela que nos proporcionará um encontro
com “esta parte esmagada”.
Ora, estamos numa área tão profunda da natureza humana (
o poço humano) em que não é
possível se “palavrisar”. Isto é, as
palavras aqui nada alcançam ou nada
representam. Daí, estarmos beirando o
afogamento! Deste risco, porém, nós já
sabíamos... Portanto, vamos nos afundar cada vez mais!...
Pois bem, eis o dilema do sujeito e seus vazios – a falta
de palavras com as quais denominar os seus sentimentos ou, como aqui vou nomear – a sua outra face sem “a maquiagem egoico”.
A
MAQUIAGEM EGÓICA
O
vazio existencial não é outra coisa,
senão a nossa outra face sem “maquiagem
egoica”. Ou seja, é uma dimensão outra de nós que precisa não só ser reconhecida, como também enfrentada, assumida e dialogada: quem sou eu na parte que de mim escapa? Quem sou eu na
escuridão da minha outra face? Quem sou naquilo em que palavras não qualificam?
Pobres coitados, estes cuja face o ego não a reconhece
como sendo sua! O que resta, no entanto, a estes pobres coitados, senão o afogamento no
“poço humano”!
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