O parto e suas costuras, quando se é preciso ser mais do que uma simples aranha tecedeira
Por Gilvaldo Quinzeiro
Nada é tão merecedor de “costuras metafóricas”, quanto o
parto de um bebê - este que nasce despido de tudo, exceto, da própria pele que
lhe servirá de frágil proteção, a despeito de tudo que já lhe arranha a carne. É
aqui, onde “a aranha humana” não só tece toda a teia, como também o corpo
desenvolverá os seus tentáculos para além dos seus avessos nas veredas da
cultura.
“A mãe de pegação” como era chamada a Parteira, e por ser
assim chamada, é indubitavelmente uma das mais importantes destas “costuras”. É
dela, talvez, o tecido outro, sem o qual, todo o alinhavar se tornaria puído.
A Parteira, portanto, não se compara com a figura do
médico obstetra dos dias de hoje, conquanto, este possa (aparentemente) oferecer mais segurança – aquela (a Parteira)
foi de fato, mais do que a mão que desobstruía a passagem no momento em que as
outras (mãos) estavam “atadas” – era também e fundamentalmente presença de
espírito. Aliás, não é exatamente que nos falta?
Ora, com a “plastificação” da nossa realidade cotidiana,
parece-nos, (perigosamente) que nada
mais precisa de costuras, especialmente, como aqui está sendo aludida – a costura metafórica. E o parto já se faz por “encomenda”
com ou sem costura alguma. E o bebê nestas condições, já nasce “bordado”,
contudo, do lado avesso (?).
E aqui uma reflexão outra que por isso mesmo mereceria ir
mais além: quem vive na labuta do dia a dia de uma sala de aula sabe exatamente,
o quão tudo ainda está por parir...
Mas eis então que nos faltam - a Mãe e a Parteira?
Tudo enfim, é dor e choro?
Socorro?
Comentários
Postar um comentário