Na falta de sentido das palavras, quem ganha a cabeça são as serpentes




Por Gilvaldo Quinzeiro


Do universo somos apenas um grão de poeira. Um grão de poeira a contemplar não o universo como inteiro, mas apenas e tão somente aquela parte da qual não conseguimos escapar, ou seja, a finitude.

Ora, isso é como está em pleno deserto, e não fitá-lo como o todo, ao invés disso, o máximo que se consegue é fitar o grão de areia que nos constitui. E assim, somos a serpente sentada sobre si mesmo, enquanto o mundo é seu “chocalhar” ...

O segredo está no nome que damos as coisas. As mesmas coisas cuja existência independe dos nomes que dermos a elas. Se não fosse este ato, isto é, de dá nome as coisas, teríamos que carrega-las sobre os ombros, pois, esta seria a nossa única noção de pertencimento.

A loucura é desta ordem. Ou seja, já não mais nos contentamos com os nomes que damos as coisas, senão naquelas que as carregamos sobre a cabeça. Esta é a travessia do deserto, naquilo que dentro de si mesmo o deserto já se secou. Ou melhor dizendo, aquilo que era apenas um grão de areia, agora se sente imensamente vazio, e os ruídos do deserto são ouvidos como pedras colossais.

Portanto, por qual nome  “as cobras de hoje” se tornariam  menos peçonhentas? Ora, é neste momento que nos damos conta de que as palavras já não têm a mesma força que antes. A força pela qual uma serpente se tornaria num “objeto encantado”. E assim sendo, entre uma palavra e outra que se esquece, a loucura é quase certa como a substituta das nossas fraquezas!



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