Nós as cigarras, e suas rachaduras!
Por Gilvaldo Quinzeiro
A cigarra. Em certo sentido, somos parecidos com
este inseto. Não com a cigarra que canta, isto é, no seu ciclo de vida adulta,
mas com seu estágio bem anterior – a ninfa que pode passar de 1 a 17 anos
debaixo da terra – até conhecer finalmente a luz do sol.
Estamos nós, por assim dizer, no nosso estado de “larvas”?
Afirmar que não, significa mergulhar na
desesperança! Acreditar pois, que ainda não somos o que finalmente podemos ser,
é sim, mais esperançoso! ...
Pois bem, “La Cigarra” é um poema de Maria Elena
Walsh, poeta argentina, já falecida, e que foi (salvo engano) musicado por Renato
Teixeira. Não pude, entretanto, conter a minha emoção ao primeiro contado com
este poema/musical. Passei dias ouvindo-o! Ontem, eu soube que alguém estava a
minha procura para que eu falasse para a sua filha, a respeito do ciclo da
cigarra. Fiquei espantado! Eu? Como assim? Por quê?
Claro que fiquei tentado a falar não do ciclo da cigarra,
pois, não saberia; mas da existência que nos afunda, tal como a cigarra no seu
estado de ninfa. O que é a nossa existência, senão a nossa luta renhida naquilo
que nos soterra! Como escapar desta condição?
Estamos condenado a nos “rachar” como cigarra?
Hoje enquanto tomava o café da manhã, minha esposa
que é psicanalista freudiana (graças a Deus!), falou-me de um caso de uma moça
que afirma ver a imagem da “Virgem Maria” na palma da mão. Outro espanto! E
perguntei a mim mesmo de quem será de fato esta imagem? Da virgem que sangra
ainda em defesa da sua virgindade ou do sangue da virgem indefesa?
Veja caro leitor, no que se desmancha a existência humana
– não no “rachar” do cantar, de uma cigarra – mas no ato de “fantasmagorizar-se”!
Ou seja, o ato de habitar uma imagem outra que não aquela na qual já estamos
soterrados! Claro, que eu gostaria de ir mais fundo no canto desta discussão,
mas como ir fundo, se ainda no raso percebo que já não me habitam as palavras?
Bom dia, com muita profundidade!
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