A serpente que nos olha, pode não ser a que pica, mas a que somos
Por Gilvaldo Quinzeiro
Se de alguma forma não somos o que vemos, mas certamente
o que somos, vemos. Ora, isso é assombroso demais! Isso explica, porque nem
todos fogem da mesma cobra que pica, contudo, o fugir da cobra é algo que só
pode ser inerente à cobra em si, logo, é por este prisma que tudo para a cobra
é da ordem do que chocalha.
Dito de outra forma, a serpente que nos olha, pode não
ser a que pica, mas a que somos. Sendo assim, o nosso veneno consiste naquilo
que somos difusos, e o nosso olhar de agora, conforme a pele que vestimos.
Uma criança não encontraria nenhum prazer em empinar a
pipa numa manhã de sol quente, senão por se sentir também sem os pés no chão.
Ora, o ato de ver nos cria; o de ouvir nos move e o de apalpar
nos põe de pé, tal como o mundo em nossa volta.
Portanto, como vemos o mundo é da ordem de como damos o
bote. E às vezes é neste bote que nos tornamos a nossa própria presa. Estranho,
não?
Isso explicaria Freud por fora, ou seja, o de dentro é o mesmo
que por ele fora picado. Uma grande serpente este homem, talvez por isso mesmo,
conseguiu dá conta das nossas armadilhas.
Mas enfim, vivemos numa sociedade que só possui “olhos”, logo, ver demais, fato este que implica entre outras coisas, a não ter o tempo
necessário de termos sido “alguém” por
um dia inteiro, pois, entre um piscar e outro de olho, já nos transformamos em
coisas demais.
Então o que sou agora no que não me dou conta de que me
contemplo? Por vias das dúvidas, o melhor que faço é fechar os olhos, pois, se
abertos me transformarei naquele que já
está me picando!
Eu, hein?
Não. A cobra que pode
está agora mesmo me vendo!
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