A depressão, quando o sujeito esgota a pintura de si mesmo: um discurso sobre a arte de se reinventar!
Por Gilvaldo
Quinzeiro
A inspiração
para este texto nasceu de uma conversa entre eu e um velho amigo que hoje,
enfrenta o que se chama de crise depressiva.
Ao longo desta conversa travada na noite de ontem, quinta-feira,
mergulhamos fundo na alma humana. Ele, como eu lhe dissera na condição de um
“calango esfolado” se esquivando da travessia na areia quente; e eu, na
condição de um mero “gozador” do drama humano, isto é, do meu também.
A depressão
é em certo sentido e medida, o estado no qual o sujeito se depara com “esgotamento
da própria imagem” - aquela que, conquanto tênue, mas era como os pilares de
sustentação da “arquitetura egoica”. Sem ela, porém, o sujeito é um mero pinto
pelado, diante do mesmo mundo que antes lhe ameaçava dentro do ovo.
Em outras
palavras, o depressivo é um “pintou” que não só perdeu o gosto pela pintura,
antes a sua razão de existir, como também, hoje, se desencantou pela própria
imagem. É nestas condições, contudo, que o sujeito vai perceber tardiamente
que, o tempo todo não passou de um mero “espantalho”!
E na altura desta
conversa, eis que surge uma pergunta inevitável, tal como me fizera meu amigo: “e
agora José”? Se enterrar vivo ou morto já estamos?
Veja, o dito
aqui nos leva a pensar (este é o objetivo) a respeito do “peso da imagem’:
aquela que temos ou que perdemos sobre nós! Vivemos, pois, o tempo todo
emprenhados no ilusório. Não há como fugir disso.
Pois bem,
tal como respondi de pronto ao meu velho amigo, aqui repito: é pois, neste
momento que precisamos nos “reinventar”. Ou seja, nos pintar uma nova imagem –
aquela que, assim como a que já se dissipou – nos sustente no quadro da vida!
Em outras
palavras, viver é uma arte. Perder a inspiração significa também perder o que
nos sustenta. Em tudo isso, entretanto, tem um “canteiro de imagem”. E no mundo das imagens, perder a sua, é ficar
órfão!
Meu velho
amigo ao ouvir esta resposta, disse ter “sentido um estalo na cabeça”. No que
pensei com meus botões: agora acabei de enterrar o cara! Mas nada disso, o meu
amigo disse que tudo valeu apena, e agora iria pensar mais! ...
Ufa!
Respirei aliviado!
Pelo menos
naquele instante me sentir, depois, um vendedor de ilusões. Espero, porém, ter
convencido a mim também.
Portanto, na
vida temos sempre que nos preparar para enfrentarmos uma verdade derradeira (quando
pintar) – aquela que, quando mais tarde, ao olharmos a nossa face no espelho,
duas coisas distintas poderão ocorrer – se não sorrirmos pra nós mesmos,
certamente nos assombraremos com a própria face desbotada!
E ai meu
velho amigo! Sabe agora por quê ri tanto de você? Não?
Por mim
mesmo e de mim mesmo! Disso, eu não abro mão!
E você? Já
pintando outra face?
Boa tarde!
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