CULTURA X DESENVOLVIMENTO: QUANDO UMA É A RAIZ E O OUTRO, SEUS FRUTOS. UMA CONTRIBUIÇÃO PARA SE PENSAR A POLÍTICA LOCAL
Por Gilvaldo Quinzeiro
I
A
ÁRVORE
A cultura é como uma
árvore, logo, é aquilo que nutre e sustenta um povo. Pensar, a cultura
como sendo simbolicamente uma árvore, significa não só buscar no seu povo e na sua história, as suas
raízes, como perceber que, sem esta pensada como tal, estaremos
indiscutivelmente vulneráveis a sermos arrancados facilmente pelas presas do
tempo.
Aliás, em relação ao tempo, nos dias de hoje que
coisa dura mais que o tempo de uma bolha de sabão? Eis, portanto, uma das
marcas do tempo de agora: o tempo contra o qual não há tempo algum. De sorte
que, somente a arvore da cultura, é capaz de, ainda assim, permanecer de pé.
Por outro, lado, pensar um desenvolvimento (des)
raizado da cultura é infestar de gafanhoto tudo aquilo que o homem erigiu para além do seu próprio tempo.
AS RAÍZES
Ora, como imaginar
por exemplo, todas as edificações egípcias, maias e astecas, que ainda
hoje se mantem de pé, para assombro dos nossos olhos, senão como algo enraizado
na própria cultura! O que teria sido
de tais civilizações apostando, em um
tipo desenvolvimento, onde só o econômico tivesse valor em si mesmo?
Pois bem, o que restou dos povos egípcios; dos
maias; astecas ou incas, não foi outra coisa, senão os traços da sua cultura
fincados na terra. Ou seja, o que é da ordem da cultura sobreviveu, e pasmem, e
é dela a principal fonte de renda dos
países, onde hoje tais traços daquela
velha cultura estão localizados.
Eis, portanto, o desafio da sociedade contemporânea e dos seus governos, ou seja, optar por um
desenvolvimento que não só leve em conta, a cultura como um todo, como também perceber nesta, a
própria riqueza em si,
resgatando-a e preservando-a, como
condição única de
II
manter o individuo em pé, e por conseguinte, toda a
sociedade, ou, optar por aquele outro tipo de desenvolvimento cuja
razão de ser, não é outra, senão o de se
tornar predador daquela.
Ora, esta temática nos faz expor as faces da atual
civilização; civilização esta que se ergueu sobre os escombros daquelas cujas
faces foram contempladas como sendo as das barbáries. Enfim, o desenvolvimento atual tem devorado
abruptamente culturas, tradições, saberes e todas as raízes dos povos que, em decorrência disso,
sentem-se agora, como se fora uma espécie de ervas daninha.
OS
DESAFIOS
Portanto, o
que se discute aqui, ou ao menos o que aqui se suscita a discutir, é da ordem
urgente e essencial, a saber, a cultura já em si uma riqueza, logo, como
admitir uma outra que corroa aquela?
Em outras palavras, como pensar o desenvolvimento
sem a inserção do povo? Sem o social? Sem o cultural? Tal desenvolvimento,
assim concebido, só nutre e sustenta os poucos que nele se agarra pensando tão somente em seus próprios interesses.
Um exemplo disso, é a febre da realização da “ cultura de eventos” na perspectiva de entreter
as massas, a despeito do asfixiamento da
cultura local. Alias o que é uma cidade sem a cultura local? O que um povo, sem
ter um mínimo de enraizamento nas suas tradições? O que é um povo sem a sua
memória? E mais, o que é e por qual palavra adjetivar um governo que usa os recursos do próprio povo
para investir na morte da cultura deste
mesmo povo?
Portanto, falar em cultura X desenvolvimento é
chamar os ativistas culturais, o governo e a sociedade para a defesa da árvore
que é a cultura. Ou seja, não se pode
falar em desenvolvimento sustentável, apenas tendo as riquezas naturais, como
algo a ter que ser preservado, e ao mesmo tempo em que culturas, as tradições e os saberes são alvo dos machados deste
mesmo desenvolvimento!
OS
FRUTOS
Ora, o que seria do desenvolvimento da cidade de Canindé-CE, sem a figura e as festividades em homenagem a São Francisco? O que
seria do desenvolvimento econômico da cidade de Juazeiro do Norte, sem a figura
e as festividades em homenagem ao Padre Cícero? O que seria de Parintins sem o
boi-bumbá? O que seria da cidade de Salvador sem a presença da cultura de
origem africana que a torna tão rica, turisticamente atrativa e peculiar? O que
seria de São Luís sem seus casarões, azulejos e tambores? Portanto, eis o exemplo de que cultura X desenvolvimento
não só estão juntos, qual a raiz a árvore, bem como os seus frutos, ou seja, ambos são uma árvore só.
Contudo, apostar
na cultura é também apostar em seus ícones, e estes ícones muitas vezes é uma
pessoa comum, ou algo comum, logo, isso implica numa decisão que, para
efeito global, tem que ser também política. E uma decisão política, tem é claro seus riscos. Dai que é preciso
uma visão que extrapole o âmbito eleitoral ou eleitoreiro.
III
Outro exemplo, que eu gostaria de dá, para o
enriquecimento dos debates, que se seguirão é o seguinte: imagine um homem que
ao longo da sua vida só aprendeu a fazer cofo; ou uma rede de tucum; ou um tamborete e outros que tais, como inserir este homem no
mercado de trabalho, senão valorizando o seu trabalho; mas isso só será
possível através de uma politica cultural que, passa a perceber que tal
atividade, pode sim, ser agregada ao
desenvolvimento econômico.
Pois bem, do que vive o turismo, hoje,
indiscutivelmente, uma das maiores indústria do mundo, que, segundo as
estatísticas, é única a se manter, se não imune, mas reagindo bem a atual crise
econômica, senão das peculiaridades
local, seja esta peculiaridade, a comida, a dança, as letras, as pinturas, as
musicas ou o próprio lugar com suas riquezas naturais.
Portanto, um dos desafios da sociedade é, entre outros, o de formular proposta no
sentido de, não só fomentar a cultura local, como fator fundamental no que
concerne, a identidade de um povo, como também perceber a cultura como uma produção capaz de atrair e
desenvolver o turismo, e por conseguinte o desenvolvimento econômico da região.
É claro que, para que isso aconteça, é preciso também que os grupos culturais,
sejam devidamente assessorados, no sentido de que estes possam se constituir em
entidades, devidamente registrados e legalmente aptos para pleitear juntos aos
órgãos competentes, sejam, no âmbito, municipal, estadual e federal, recursos destinados a cultura.
OS ÍCONES
Como entender, por exemplo, que nós em plena região
dos cocais, viramos às costas para esta riqueza nativa? Como não erguer um
monumento, em homenagem a mulher típica
desta região, a saber, a quebradeira de coco? Por que não fazer esta mulher que é um maior exemplo, de
resistência e bravura, um dos nossos
ícones? Por que não defender e divulgar a comida feita no leite ou no azeite de
coco como realmente uma das mais deliciosas iguarias?
AS
SUGESTÕES
Por que não ensinar,
incentivar e divulgar o artesanato feito com a palha da palmeira do
babaçu?
Outro ponto, a ser considerado é o da oralidade e
seus saberes. Por que não investir numa
feira onde seja exposto as ervas e as
plantas medicinais, bem como o conhecimento que a estes estão agregados? Por
que não realizar festivais de contadores de histórias? Por que não realizar
festival de dança folclórica?
IV
produção cultural local, seja o artesanato, seja, as
danças, enfim, as manifestações culturais de maneira geral. Dai que se faz
necessário que os produtores culturais deste município precisam se preparar,
acompanhar e participar de tal iniciativa.
Por fim, quero finalizar reiterando as minhas
palavras iniciais, ou seja, a cultura é árvore; o desenvolvimento, seus frutos.
De modo que, um não deve estar desassociado do outro. Mas tornar isso possível
é preciso visão e comprometimento político, mas, sobretudo, a participação da
comunidade, em especial, dos produtores de cultura, no sentido de não se fazerem presentes, mas
fundamentalmente serem as raízes de quaisquer iniciativa de desenvolvimento.
A todos, o meu agradecimento pela atenção, e o meu
desejo de ter de alguma forma contribuído
para o enriquecimento do debate
Muito obrigado!
Comentários
Postar um comentário