O que é a coisa na coisa que se abocanha? Uma simples mordida psicanalítica nas coisas que já nos engolem.
Por Gilvaldo Quinzeiro
É coisa da mais pura
filosofia querer como a criança que veio ao mundo sem coisa alguma, “
abocanhar” todas as coisas. Ora, Freud “mastigou” isso até o final da sua vida,
ou seja, ele defendeu a ideia de que o
nosso primeiro contado e noção da realidade se dão exatamente pela boca. Isso
implica dizer que primeiro tudo “engolimos” para só então cuspir o mundo que
não nos interessa. Se não fosse assim,
sabe por quem seriamos engolido?
É deste modo, portanto, que nos afundamos na “coisa” para dela só se desvencilhar quando, o
que antes mastigado e engolido, aparece constituído naquilo que nos “enoja”
na ponta dos nossos dedos. Eis aqui a noção rudimentar de alteridade? Eis
aqui a nossa dificuldade de lidar com o outro? Ora, esta questão sem um exame mais apurado do caso não há nem como afirmá-lo , e muito
menos como negá-lo...
Pois bem, a boca é tudo aquilo que nos cabe. O
que nos sobra para o lado de fora,
entretanto, também é nosso – o que não é
nosso é aquilo que não consiste em coisa
alguma, ou seja, aquilo que nem na fantasia se abocanha.
Por outro lado, o que significa abocanhar a coisa?
Expressar isso em palavras, não nos é possível, contudo, é nisso que consiste o nosso processo de
identificação. Ou seja, psicanaliticamente falando, a fome é um sinal de que o mundo, seja lá o que for, virá para a
nossa boca pelas mãos de quem já sabe o que significa “o nojo”.
Ufa! Ainda bem?
É aqui
entretanto, que nasce toda a
nossa “dor de barriga” ou a nossa indiferença
a todas as dores.
Portanto, não há
coisa mais significante do que se abocanhar a coisa, enquanto o outro que nos abre a mão (com a coisa), mantém
neste ínterim, a sua boca fechada, para
delicia da nossa boca escancarada.
Então esta é “a coisa na coisa que se abocanha”!
Pois bem,
veja o quanto estamos sempre correndo
risco de morte, haja vista, a fome do outro que, diante da nossa, tem que
conter a sua. Já pensou a nossa boca aberta despertando apenas a fome no
outro?
Comentários
Postar um comentário