A leitura dos cheiros e do mundo


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

A leitura do mundo está para o homem contemporâneo, assim como a decifração do cheiro, está para o caçador. Para ambos a sua sobrevivência depende inteiramente dessa capacidade.  Isso  explicaria a “aliança” entre o caçador e o cão. Neste ponto, o caçador supera o homem contemporâneo, pois,  as amizades, as parcerias e as alianças estão ficando tão raras, quanto os cheiros das caças nos dias de hoje.  Em outras palavras, falta ao homem contemporâneo, não a leitura do mundo, embora,  esta nos pareça fragmentada demais,  mas a compreensão de que neste mundo é a luta pela sobrevivência que nos tornam caçador de nós mesmos – o cão nosso de cada dia é o que já nos rasga!

Por outro lado, o sorriso é a mais expressiva de todas as linguagens – a síntese do dever comprido em relação, não só a compreensão de todos os cheiros e leitura do mundo, mas o sinal de que estamos abertos ao encontro do outro, seja este  Outro, um  caçador ou um cão. De modo que, quando neste mundo, de sorriso somos severamente silenciosos – então ou já não podemos mais decifrar o nosso próprio cheiro ou porque àquilo do qual deveríamos fugir, das serpentes, por exemplo, estamos sentados exatamente em cima!

Ontem, em conversa com meu pai, um velho caçador, ele me chamava atenção para   as pessoas que estão perdendo a aparência de gente. E que todo mundo, embora, no mesmo ambiente, numa sala, por exemplo, (ele fez esta leitura num interior de um hospital) não olha mais para ninguém, pois, todos estão com os olhos arregalados, sim, porém,  presos a um aparelho de celular!

Bem, para um velho caçador, como pai, esta leitura está mais do que correta, a respeito do mundo contemporâneo, é pontual, tal como, ele fazia para separar os cheiros das caças. Eu, como filho de um velho caçador, não tive dúvida nenhuma: estamos no “mato sem cachorro”! E para piorar a situação, nos esquecemos de ensinar o gato a caçar!

Ótima segunda-feira, a todos!

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A roda grande passando pela pequena

Os xukurú, e a roda grande por dentro da pequena...

Medicina cabocla