A dor no tempo em que sujeito a tudo se derrete



Por Gilvaldo Quinzeiro

 

 

Se o sujeito se derrete a qualquer vestígio de um simples arranhão, por quem este se encolhe na dor que não lhe cabe sentir? No tempo da fartura de analgésico há certamente a escassez de quem dialoga com a própria dor!

Dialogar com a própria dor quem diabo suportaria isso? Que retrocesso!

Pois bem, este tema foi objeto de discussão nas minhas tardes de reflexões em companhia do meu velho amigo J. Cardoso. Neste texto vou procurar colocar o dedo nas nossas feridas, hoje tampada com a bandagem da nossa pressa. Aliás, quem na pressa do dia a dia  tem tempo de amadurecer? Tudo é tão verde!

Encolhido pela dor que não lhe cabe sentir, pois, se derrete a qualquer vestígio de um simples arranhão, o sujeito se torna poroso como uma peneira – tudo é o “lá fora” – moradia de todos os sujeitos fugitivos de si mesmo!

O dito aqui não é nenhuma apologia à dor. Mas, um esforço para  chamar atenção de que ainda não nos convertemos em máquinas (ainda bem?), de sorte que, a natureza humana tem muito a nos ensinar, inclusive com e através da dor.

A Psicanálise, por exemplo, se fez “ciência” apanhando com a dor do Outro. Seus ouvidos se tornaram os mais apurados na escuta do homem ferido. Por isso, não é da prática dos psicanalistas receitar remédio algum, senão o de ouvir as vozes das suas próprias feridas!

Eu temo muito pela fragilidade dos nossos jovens que não têm estrutura para ouvir um “não” sequer. Isso sem falarmos na  “chicotada” que é a realidade!...Ao que me parece, estar em “carne viva” é se antecipar a dor que não suportaríamos senti-la.

Que diabo!

O corpo!... Ah o corpo! Tem sido o nosso cavalo de batalha neste tempo de nenhuma armadura e,  muito menos, cavaleiro!... Mas, para que gemer se não há  dentro dele (do corpo) cavaleiro algum a lhe escutar?

Sim, o sujeito da pós-modernidade “escapuliu”! Só restou o cavalo – o corpo! E o diabo agora é todo seu!...

De quem?

 

                                       

 

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