A cabaça, e não a cabeça, quando compartilhada pode significar outra sede!
Por Gilvaldo Quinzeiro
Quem nunca saciou em grupo a sede pela boca da mesma
cabaça, não poderá saber o significado de coletividade, ainda que esta palavra
lhe possa soar como fonte de inspiração. O sertão escaldante é, pois, sem dúvida
nenhuma, a fonte para quem quer não só entender de como se faz da luta para não
se morrer de sede, a própria vida, como é também o laboratório para quem quer
ser versado em “existencialismo”. De sorte que, falar de “coletividade ou de existencialismo”
sem ter vivido na carne e na alma, o significado de viver com o pouco de todos
os dias – é se passar apenas na condição de um espantalho, quando a realidade vive
encravada na carne com seus espinhos!
O “existencialismo caboclo”, e não de Sartre é o
filosofar sobre a própria carne. E portanto, sobre o sentido da existência,
caso esta tenha sentido, se não aquele que se ganha, quando se perde a própria pele,
assim como as cobras no seu rastejar sobre as pedras.
O compartilhar a agua escassa pela mesma boca (da
cabaça), quando a sede abunda ante tantas bocas abertas - é avançar naquilo em que para Marx – o coletivo
significa apenas o meio para se chegar ao poder.
O caboclo, portanto, vive a sua Revolução diária
naquilo que, ainda que na sua escassez, não há o pouco que não possa ser
compartilhado.
Nestes dias em que “compartilhar” pode significar
apenas se tornar mais “seco” com as imagens de cabeças arrancadas, quando a
próxima poderá ser a nossa, uma cabaça, e não uma cabeça, compartilhada com o
que ainda resta de água – é sim uma imagem Outra - aquela que poderá nos salvar
da “sede de carne”!
Por tudo isso, viva o sertão aberto em suas feridas,
e nestas, o caboclo vivo ataiando o
tempo com seu chapéu!
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