E ai mano, sentado sobre os próprios olhos?


Por Gilvaldo Quinzeiro

 

Os olhos da realidade sempre estão arregalados e fitos em nós, mas, quanto aos nossos, estes estão fitos em quem? O contexto em que vivemos nunca se precisou ter tantos olhos, inclusive em cada dedo. Ocorre, no entanto, que quanto mais acontecem as “avalanches de imagens”, menos temos olhos para aquelas que nos sustentam. No fritar do peixe, os nossos olhos também já foram arrancados pelos do gato! Daí se conclui que, se tivéssemos tantos olhos, quanto os que da realidade nos exigem, certamente estes estariam sendo usados não para enxergar, mas apenas para com eles nos coçar. Veja, portanto, o paradoxo: nas coisas sobre as quais nos sentamos, podem ser aquelas que estejam nos fazendo falta na cara – os olhos!

Hoje em sala de aula, enquanto exibia um filme, me dei conta de que valem mais todas as bundas pregadas na cara, pois, alguma coisa delas nos apontaria pra frente, a ter os olhos pregados num mero aparelho de celular, enquanto os da realidade se passam como sendo o grude das nossas mãos suadas, fazendo dos dedos os nossos outros olhos!

Por isso, tenho falado reiteradas vezes, da nossa “condição de espantalho”. Às vezes também tenho dito da nossa mera condição de “sabugo”. Ora, qual a face da mudança, senão aquela em que perdemos as nossas!

Mas voltando a falar dos “olhos da realidade” sobre nós. É fácil, pois, constatar, o quanto aqueles se alimentam da nossa cegueira! Talvez, aqueles de tantos arregaçados, os nossos deverão lhes escapulir!

Hoje em Davos, na Suíça, no Fórum Econômico Mundial, os olhos do mundo estão a procura daqueles que precisarão enfim, serem arrancados, para puxar a locomotiva do crescimento. Alguns destes olhos estão fitos na China, outros, nos dos Estados Unidos. Enquanto isso, os olhos das autoridades brasileiras estão lhes servindo apenas de meras almofadas?

E ai mano, vendo o mundo com a bunda, né?

 

 

 

 

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