Que diabo goza no sagrado que nos tortura?



Por Gilvaldo Quinzeiro





Um dos castigos mais cruéis de que se tem registro é o "burro espanhol", no qual as vítimas eram colocadas nuas em um aparelho que tinha o formato de uma letra V invertida com as pernas entreabertas. A ideia era fazer com que o peso da própria vítima cortasse o seu corpo em duas metades. Para deixar a situação ainda mais agonizante, pesos eram amarrados aos pés da vítima, forçando o corpo delas para baixo. Na ilustração acima, o artista Bessonov Nicolay retrata como funcionava o "interrogatório" com o uso do aparelho durante a Idade Medieval 



Os homens e suas invenções de torturas.  Como “gozar” destruindo o templo do gozo do outro? Eis os engenhos que nunca cederam a pressão por mudanças. Isto é, em todas as épocas, as coisas do Corpo seduziram o homem, seja no sentido do Corpo como espaço sagrado para a realização do gozo; seja o  Corpo como espaço também sagrado da dor  - da dor que aos olhos do outro também lhe faz “gozar”!  Nem Salomão do alto da sua sabedoria conseguiu se livrar da carne que em si ardia! E como ardia!! Aliás, não foi Salomão quem ergueu na terra o mais sagrado dos templos?

Não há, pois, quaisquer ideias de paraíso sem que estas não tenham  nascidas antes no Corpo.  O Inferno também nasce aqui, antes mesmo  de o habitarmos em outro lugar.

Em outras palavras, se repararmos bem, os engenhos das torturas, estes, são também objetos que diz respeito ao “gozo”. Porém, quem pode ser mais infeliz numa época em que o Corpo é a personificação dos demônios contra os quais lutam os “santos”?

Que “santo” precisa demonizar o Corpo para alimentar outro tipo de “gozo”?

Na verdade, a proposito desta reflexão,  algo nos intriga, a saber, se na Idade Média, “o gozo sagrado” se materializava apenas  quando da ausência do Corpo  ( se castigado),  o que hoje já não é tortura no “sagrado” que ostenta o Corpo?


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