Quando o que nos abocanha é a nossa própria boca acrescentada as coisas
Por Gilvaldo Quinzeiro
Não é a “boca da cabaça” que nos faz sentido, mas a
nossa própria boca acrescentada àquela. Ora, o que é então a realidade que “conhecemos”,
senão a contemplação das nossas vísceras no mundo! Em outras palavras, “o
bicho” que me faz correr o tempo todo, pode não ser aquele que está do lado de
fora, mas aquele que há muito tempo faz
de mim seu habitat.
Portanto, “boca da cabaça” seria tão inofensiva, se o
sentido de abocanhamento contido nela, não nos fosse pertinente. Isto é, se não
fosse inerente ao nosso abocanhar. Hans
Standen (1525-1579), aventureio alemão, que o diga, pois, quando este se tornou reféns dos índios
tupinambás, percebeu o quanto o
chacoalhar de uma cabaça nas mãos daqueles
guerreiros, os transformavam na “boca” prestes a lhe abocanhar!
Pois bem, o dito acima é para dizer o quanto estamos sentados sobre nós mesmos, a despeito de uma realidade
outra que se levanta, e para a qual, não
passamos de sua “digestão”. Ora, sentar sobre si mesmo é dizer que estamos
atolados nas nossas próprias merdas!
No domingo, o programa do Fantástico, da Rede Globo exibiu uma
reportagem sobre uma comunidade mística, no Santuário do Roncador, no município
de Barra do Garças, Estado do Mato Grosso – uma espécie de templo fincado
dentro de uma gruta. Uma gruta o que é senão, uma boca? – a boca da terra
abocanhando os nossos gemidos! Uma boca que nos chama: “filhos venham cá”? Ou
cá entre nós é melhor que calemos a nossa boca, enquanto os nossos ouvidos
engolem?
A questão é: a rigor somos uma cabaça! E a boca é a que nos
escancara? Ora, isso nos faz remeter a Platão e o “Mito da Caverna”. Quantas
“bocas” há na nossa República esquecendo que os outros também têm barriga!
Ah! Sábios mestres que nos venham de onde vierem
antes que sejamos devorados pela comida da nossa própria boca!
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