O neorrealismo e o talho da navalha!
Por Gilvaldo Quinzeiro
Os homens que têm a força de nos ditar suas ideias, e nos
colocar de pé nas ruas, não estão nas esferas do poder, nem nos acalorados
debates dos ‘cafés filosóficos’, mas na alta-costura. Não é à toa que nas
narrativas infantis, o rei no afã de se vestir do mais rico tecido, seguiu os
conselhos de um costureiro, e pensando que estivesse bem vestido, andou nu
pelas ruas!
Claro que isso é um paradoxo, e feminino, diga-se de
passagem! Ademais, isso fere o nosso orgulho narcisista e machista. Explico: ‘o
feminino’ aqui não tem nada a ver com o sexo, mas com o processo criativo.
O dito acima é uma introdução acerca dos paradoxos do nosso
neorrealismo. Chamo de neorrealismo, a realidade, cuja base material já não mais
se distancia da ficção. Ou seja, uma ‘desconstrução’ dos paradigmas ainda
vigentes.
Assim sendo, o mais real de toda ficção é o ‘poder’. É aqui
onde as tesouras, agulhas e linhas estão por trás de toda a cena. Tudo isso
para esconder o seu estado de ‘puidez’.
Em outras palavras, o ‘rei está completamente nu’, e o povo
em êxtase a aplaudir: “oh que maravilha! ”
“Que luxo! ” “ Que rica e brilhante é a roupa do nosso rei”!
É neste neorrealismo que as nossas ‘feridas’ ganham cheiros
e vidas nos palcos dos reality shows,
tal como o “Big Brother”. Trata-se,
pois, de uma exposição tal como aquela do ‘grande rei’, tudo isso em nome da
fama – tesouro aparentemente raso – mas que todos se afogam!
Tal é a complexidade
das coisas, isto é, da porosidade dos tecidos, digo da realidade, que para nele
sobrevivermos ou nos rebaixamos a condição de ‘espantalhos’ ou nos elevamos a
condição de ‘avatares’.
Por fim, o talho da navalha é o seguinte: uma história, que se fosse uma mera ficção,
mas não é, nos serviria de ensinamento! Trata-se de um garoto paquistanês de
apenas 15 anos de idade que, para se redimir de uma ‘blasfêmia’ da qual fora
acusado pelo seu líder religioso lhe ofereceu num prato a sua mão decepada!
Ai!
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